“Progresso é respeitar os direitos humanos, as diferenças, o gênero”, afirma Wolton

Em entrevista exclusiva ao LabJ, o sociólogo Dominique Wolton, que esteve nesta terça-feira (13) na Escola de Comunicação, Artes e Design Famecos, disse que não há comunicação se não houver respeito mútuo entre as pessoas

Eduarda Wisniewski

TEXTO: Fran B. Geyer – Originalmente publicado em 13/11/2023 (Medium Lab J)

Dominique Wolton no palco do auditório da FAMECOS | Foto: Giordano Toldo

“O primeiro problema na política é respeitarmos mutuamente. Mas os homens não gostam de respeitar uns aos outros porque preferem lutar ou matar-se constantemente”. Disse Dominique Wolton.

Em muitos casos, especialmente em alguns debates sobre direitos humanos e assuntos LGBTQIA+, a conversa acaba sendo entre um grupo defendendo seu direito de existência e outro o negando. Como podemos nos comunicar quando um grupo nega ao outro o direito de existência?

“Para a comunidade LGBTQIA+ e outros grupos, existem dois tipos de guerra. Primeiro, para ser reconhecido perante a lei e segundo para poder falar com outras pessoas que não gostam da sua sexualidade e serem aceitas na negociação como iguais. Não sendo forçadas a ocultar sua orientação, mas para tentar explicar às outras pessoas porque podemos conviver mesmo sendo diferentes. E este é um dos maiores debates do século 21, porque muitas pessoas não aceitam a diferença e a igualdade. Se queremos direitos humanos, precisamos de diferença e igualdade”.

Mas isso não parece ser uma tarefa simples…

“É muito difícil, já que todos preferem matar pessoas que não são iguais a eles. Mas o problema é muitas vezes que as pessoas LGBTQ estão muito empenhadas na sua luta, mas não veem as outras guerras ou os outros problemas. Ok, você está tentando ser igual, mas não se esqueça de brigar com outros países ou outras pessoas que também querem ser iguais”.

Você acompanhou as discussões sobre a regulamentação das redes sociais no Brasil? O que deve ser feito para fortalecer a comunicação na política brasileira?

“Não há comunicação sem lei. As pessoas costumam dizer que uma Internet sem lei é uma Internet livre. Isto é uma grande mentira. Se não houver regulamentação, o poder estará nas grandes indústrias. Portanto, se quisermos manter a Internet como uma liberdade, temos de aumentar sua regulamentação. Não, isso não é a perda da liberdade. Esta é uma condição de liberdade. E se não houver regulamentação, é uma potência dos países ou corporações mais poderosas. Existem leis para a literatura, para o cinema, para a política, para tudo. E não existem regulamentações para a internet. Dizer isso é uma revolução, ou algo novo é mentira. Existe uma espécie de continuidade entre telefone, rádio, antena de TV e assim por diante”.

Então, a internet não deve ser tratada como exceção entre os canais de comunicação?

“Exato. A coisa mais importante a fazer é regular a internet. E não a tratar como uma exceção. É provavelmente mais importante ter regulamentação e democracia. Temos que dizer aos jovens: não é porque podem dizer tudo a todos, não é porque podem acessar o que querem a hora que quiserem, que isso seja progresso. Progresso é respeitar os seus direitos humanos, as suas diferenças, o seu gênero, a sua sexualidade e assim por diante”.

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