Chuvas inundam Biblioteca Municipal Josué Guimarães

Funcionários lutam para preservar acervo de quase 50 mil exemplares a cada chuva forte

Redação labJ

TEXTO: Fernanda Feltes e Fran B. Geyer – Originalmente publicada em 18/09/2023 (Medium LabJ).

Subsolo da biblioteca debaixo d’água (14/09/2023) | Foto: Fernanda Feltes

O subsolo da Biblioteca Pública Municipal Josué Guimarães, em Porto Alegre, está debaixo d’água. A biblioteca, que conta com aproximadamente 50 mil exemplares, está localizada no prédio do Centro Municipal de Cultura Lupicínio Rodrigues e tem sido castigada pela temporada de ciclones que tem ocorrido no Rio Grande do Sul.

O Centro Cultural foi construído como parte do projeto Renascença, que visava recuperar as áreas centrais das capitais dos estados, e foi montado como um Centro Municipal de Cultura. No espaço também estão localizados o Ateliê Livre, a Sala Álvaro Moreyra, o Teatro Renascença, as coordenações de Dança, Artes Cênicas e Literatura e um Saguão de Exposições. Por conta das chuvas, o teatro também registra danos.

No começo de setembro, as águas tomaram o subsolo da biblioteca, subindo cerca de 40 centímetros e afetou a rede elétrica. Conforme a diretora da biblioteca, Renata Borges, isso ocorre porque o andar fica abaixo do nível do Arroio Dilúvio, facilitando a entrada de água quando há cheia. O piso que cobria o chão apodreceu. Agora, o andar possui somente contrapiso, de concreto, incapaz de isolar a água. Em junho passado, a inundação chegou a atingir quase um metro de altura, conforme mostram as marcas nas paredes. Outro problema é a entrada de água pelas janelas, onde o silicone cedeu, ocasionando infiltrações.

Marcas do avanço da água no subsolo e nas infiltrações provenientes das janelas | Fotos: Fernanda Feltes

A cada chuva forte, os funcionários se desdobram para remover parte do acervo antes do avanço das águas e salvar uma coleção de mangás (revistas em quadrinhos japonesas), livros históricos e a coleção de livros japoneses doada pelo governo de Kanazawa, cidade-irmã de Porto Alegre. Ainda assim, uma parte não contabilizada do acervo foi perdida. Por conta da necessidade de mover os livros, a direção da biblioteca foi obrigada a comprar estantes de forma emergencial para acomodar as mudanças.

Livros e mangás retirados do subsolo | Foto: Fernanda Feltes

Isso vem acontecendo desde 2015, sendo oficialmente registrado em um pedido de reformas de 2019. Mesmo que em 2021 a prefeitura de Porto Alegre tenha isolado o encanamento do andar inferior para evitar novos incidentes, o movimento se demonstrou pouco eficiente por conta da temporada recente de ciclones. Uma solução permanente só viria com a reforma completa do espaço, que, de acordo com a prefeitura, ainda não tem prazo para acontecer.

Antigamente, o subsolo era ocupado pelos escritórios dos funcionários. “Sabemos que não temos as condições ideais, mas não podemos deixar de atender a comunidade”, afirma Renata. Com as frequentes inundações, a equipe se deslocou para o andar de cima, com um ambiente de trabalho improvisado. Mesmo com a mudança do ambiente, a biblioteca precisou implantar um sistema de trabalho híbrido e alternado devido ao cheiro forte de umidade e mofo causado pelas frequentes inundações.

Corredor de acesso ao subterrâneo | Foto: Fernanda Feltes

A diretora lamenta que o local seja lembrado por esse problema na sua estrutura enquanto o espaço luta por maior visibilidade junto à população de Porto Alegre. A biblioteca, que fica aberta de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h, conta com espaços para estudo, acervos em braile, coleções japonesas e sessão infantil com contação de histórias em sua programação.

Apesar das dificuldades, biblioteca continua suas atividades | Foto: Fernanda Feltes