Como funciona o controle da qualidade das águas das praias no Rio Grande do Sul

Luciana Weber

Publicado originalmente em 23 de Janeiro de 2024

Divulgação/Prefeitura de POA

A qualidade da água de praias de água doce e salgadas são monitoradas toda semana por todo o estado. No caso do Rio Guaíba, na capital, as coletas para determinar sua balneabilidade são realizadas pelo DMAE (Departamento Municipal de Água e Esgotos). No litoral gaúcho, a Fepam é responsável pelas análises.

Os testes estão de acordo com as resoluções do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) 274/2000 e 357/2005. São necessárias cinco amostras de cinco semanas de testes para determinar a balneabilidade do local. Começa com as coletas nos postos, indo para o laboratório e, enfim, são divulgados os resultados. Em entrevista ao Lab J, o diretor do Instituto do Meio Ambiente da PUCRS, Nelson Ferreira Fontoura, explica que a escolha de cinco semanas de monitoramento não é por questões técnicas, mas um compromisso com a razoabilidade. “O número já mostra o suficiente para caracterizar, mas que não representa uma extensão de tempo muito grande”, explica o diretor.

Os laboratórios analisam os índices de bactérias como Escherichia Coli e Enterococos, a salinidade, e o número de pessoas e animais no local, a floração, que é um grande crescimento de algas, podendo até mudar a coloração da água. Outro fator importante, é o Ph da água na hora da coleta, que deve ficar entre 6,0 e 9,0, que é considerado um Ph relativamente neutro.

Mas o principal da análise é a bactéria Escherichia Coli, que é abundante em fezes humanas e de outros animais, sendo encontrada em esgotos, águas naturais e solos que tenham recebido contaminação fecal recente. Das cinco amostras, 80% não devem apresentar resultados de Escherichia Coli superiores a 800 NMP/100 ml, e na amostra da quinta semana não pode exceder 2000 NMP/100ml. NMP significa Número mais provável, ou seja, a cada 100ml de água não pode conter mais de 800 microrganismos pelo número mais provável, permitindo avaliar estatisticamente a quantidade de microrganismos presentes em uma amostra. O método utilizado para as coletas é o teste Colilert que utiliza o substrato enzimático como solução para detectar as quantidades de Escherichia coli em apenas 24 horas. Após as análises, os resultados são divulgados, sendo categorizados como próprios e impróprios. No entanto, a resolução do Conama 274/2000 especifica que mesmo estando própria para banho, existem categorias para melhor analisar esses resultados. De acordo com o Conama, esses níveis são:

a) Excelente: quando em 80% ou mais de um conjunto de amostras obtidas em cada uma das cinco semanas anteriores, colhidas no mesmo local, houver, no máximo, 250 coliformes fecais (termotolerantes) ou 200 Escherichia coli ou 25 enterococos por 100 mililitros;

b) Muito Boa: quando em 80% ou mais de um conjunto de amostras obtidas em cada uma das cinco semanas anteriores, colhidas no mesmo local, houver, no máximo, 500 coliformes fecais (termotolerantes) ou 400 Escherichia coli ou 50 enterococos por 100 mililitros;

c) Satisfatória: quando em 80% ou mais de um conjunto de amostras obtidas em cada uma das cinco semanas anteriores, colhidas no mesmo local, houver, no máximo, 1.000 coliformes fecais (termotolerantes) ou 800 Escherichia coli ou 100 enterococos por 100 mililitros.

Termotolerantes: São bactérias que estão presentes em grandes quantidades no intestino do homem e animais de sangue quente.

Usando o relatório da Fepam, como exemplo, para as definições acima, vários pontos estão “próprios” para banho, mas seus níveis de bactérias variam. Por isso, definir se um ponto está próprio ou não não se mostra suficiente. Fontoura fala que “essa decisão de botar simplesmente própria ou imprópria em vez de dizer a categoria da qualidade tem uma natureza política relacionada aos interesses dos municípios”. Ele especifica que essa sua visão, pode parecer polêmica mas que acontece principalmente por “questões econômicas” dos municípios.

A ingestão excessiva de Escherichia coli pode causar algumas doenças, mas o diretor enfatiza que pouco importa a faixa etária de quem está consumindo. Crianças, por exemplo, que costumam ingerir maiores quantidades de água quando estão em praias ou rios, não correm mais riscos do que adultos e idosos. Vale ressaltar que, mesmo assim, nada impede que qualquer um desses grupos contraia alguma doença, como diarreia ou disenteria, ao consumir água contaminada com Escherichia Coli em grandes quantidades.