12° Fórum do Meio Ambiente na Famecos discute questões sobre água e energias renováveis

No segundo dia do evento, o foco foi em temas relacionados à água e energias renováveis.

Luciana Weber

Publicado originalmente em 14 de Maio de 2024

Início do Fórum Internacional do Meio Ambiente

As palestras que abordaram esses temas tiveram cada uma um foco diferente. A primeira tratou do papel da imprensa na cobertura sobre água e energias renováveis, enquanto as outras trataram das estratégias da CMPC, empresa de fabricação de celulose e papel, para ser líder global em sustentabilidade, jornalismo ambiental e da visão das ONGs sobre energias renováveis.

A primeira palestra começou com a jornalista Geórgia Santos, remotamente, falando sobre jornalismo ambiental e direitos humanos, enfatizando os problemas hídricos do Pampa. O bioma gaúcho vem sofrendo problemas com a água consumida pelas mais de 8 mil pessoas assentadas no local. A jornalista explica que uma professora, com quem conversou, da Universidade Federal de Santa Maria, coordena uma série de grupos que trabalham com a preservação do Pampa. Em uma pesquisa feita por um desses grupos, foi mostrado que a água consumida e utilizada na agricultura local está contaminada com um agrotóxico chamado 24D, banido na Europa e que até a PL do Veneno (2023) era proibida no Brasil. A jornalista explica que se algo não for feito para parar essas devastações no bioma, é possível que ocorra uma imigração em massa da população para os centros urbanos. “Propriedades, pequenas comunidades que são mais vulneráveis, estão sendo afetadas, estão bebendo água contaminada”, diz a jornalista. O problema atinge tanto a habitação quanto o trabalho da população que vive no bioma.

Em um segundo momento, a também jornalista Eliege Fante continua com o foco no Pampa. Ela começa contando sobre a pesquisa em que participou em 2020 sobre o clima no estado. O foco do debate está nos projetos eólicos. Ela conta que o RS é um dos pioneiros dessa energia no Brasil. O Governo do estado apresentou seus projetos para o Congresso Nacional mostrando onde as usinas eólicas podem se alojar para a produção de hidrogênio verde. Esse hidrogênio é produzido através da eletrólise da água utilizando energia renovável se transformando em uma fonte de energia limpa e sustentável. Porém as comunidades locais não foram consultadas e não sabem sobre os projetos. A jornalista questiona o que vai ser da água coletada no processo. “A água utilizada no processo fica imprópria para consumo, qual o impacto dessa água no meio ambiente?”

A questão trazida à tona é o vácuo demográfico, quem são as pessoas que moravam nesses lugares antes das usinas? Eliege fala sobre Osório e como as implantações das novas usinas eólicas trouxeram muita degradação e drenagem de banhados. Ela enfatiza que o que está sendo extinto no Pampa é a vegetação campestre. O diálogo para a implantação dessas eólicas, bem como os projetos da cadeia de hidrogênio verde, tem ocorrido somente entre governos e empresas. O governo gaúcho viajou para vários países da Europa e até hoje não foi a Rio Grande nem a nenhum outro município falar com nenhuma comunidade. “É necessário avaliar a real capacidade de auto reprodução dos ecossistemas naturais a partir desses planos do governo do Rio Grande do Sul de ampliar a conversão dessas áreas situadas no bioma Pampa”, completa a jornalista.

À tarde, as palestras mudaram de foco e foi a vez da CMPC assumir. Ana Paula Pulido, engenheira florestal e especialista em sustentabilidade apresentou a palestra. Durante o evento, a engenheira falou sobre a importância da sustentabilidade nos empreendimentos da empresa. Sobre os desafios da sustentabilidade, Ana discutiu como a crise climática, escassez hídrica e desigualdades sociais e econômicas, enfatizam a necessidade de assegurar o abastecimento de recursos naturais e promover a equidade na sociedade.

Quanto às Metas de Sustentabilidade da CMPC, é previsto a redução do uso de água nos processos industriais, a eliminação total de resíduos em aterros sanitários, a diminuição das emissões de gases de efeito estufa e a expansão de áreas de conservação até 2030. Ana foi perguntada sobre a liberação de cloro no Lago Guaíba pela CMPC: “Temos indicadores que passam por auditorias que são monitorados por várias organizações e caso a CMPC estivesse fora da legislação, ela seria acionada imediatamente pelos órgãos reguladores, como a FEPAM. Estamos dia a dia trabalhando para resolver isso”. Ana Paula ainda enfatiza a avaliação dos impactos ambientais das novas plantas industriais e o uso responsável de defensivos agrícolas aprovados previamente.

Acerca da responsabilidade social, a CMPC investiu 22 milhões de reais em projetos sociais. “Para cada 1 real investido retorna para a sociedade 1,70”. Cerca de 70% de todo esse investimento ficou no Rio Grande do Sul. Após as falas de Ana Paula, o presidente da Agapan, Everton Lacerda, começa sua fala criticando a participação da empresa como patrocinadora do evento, citando o histórico poluidor da empresa. A CMPC não respondeu a essa crítica e nada foi falado sobre os organizadores do evento. Everton afirma que a CMPC e as empresas silvicultoras no geral, são as grandes responsáveis pela degradação do pampa gaúcho. Ana Paula diz que o pampa é o segundo bioma do Brasil que mais sofre com o desmatamento, mas o plantio de eucalipto não é o responsável pela degradação, sem citar as fontes. Everton afirma que a imprensa gaúcha não expõe o verdadeiro impacto negativo no ecossistema gaúcho. Durante o evento, Everton Lacerda e Eloisa Beling, professora da UFRGS, vice -líder do grupo de pesquisa em jornalismo ambiental, ressaltaram a importância do jornalismo ambiental em expor questões relacionadas às mudanças climáticas e à degradação ambiental. Trouxeram a necessidade de evitar contaminação informativa e garantir transparência na cobertura jornalística.

Depois da apresentação da CMPC e do Presidente da Agapan, foi mostrado um vídeo do jornalista Rodrigo Lopes, que por motivos profissionais não pode estar presente no evento. Rodrigo afirma que as mudanças climáticas antes eram vistas como algo distante, hoje são sentidas fortemente no mundo inteiro. O jornalista explica que quando começou no jornalismo, os assuntos “mudanças climáticas” e “meio ambiente” eram tratados nas redações com um certo preconceito, mas que hoje, se tornaram uma das prioridades dos veículos de imprensa: “A gente, como jornalistas, precisamos ficar atentos às contradições e a discursos que parecem ser bonitos mas que têm telhado de vidro”. Se fala muito em transição energética, mercado de carbono e etc… mas por muitas vezes esses conceitos não são explicados. Se parte do pressuposto que o leitor já sabe o que são, e isso é uma grande falha da imprensa.

Logo depois, a jornalista e secretária geral da Federación Argentina de Trabajadores de Prensa, Carla Gaudensi, também em vídeo fala sobre como o meio ambiente se encontra ameaçado pela nova administração do Governo Milei assim como as mulheres e as demais minorias. Milei fechou a Télam, a principal agência pública de notícias da Argentina. Único veículo que tem representantes em todas as províncias argentinas, além de ser a segunda maior agência de língua espanhola, atrás apenas da espanhola EFE.

Carla enfatiza que a maioria das trabalhadoras da imprensa na Argentina ganham salários que as colocam abaixo da linha da pobreza. É fundamental a resistência e a unidade de todos os trabalhadores da imprensa, não só na Argentina, mas também no Brasil. Carla exemplifica o cenário comparando o atual governo argentino com os anos do governo Bolsonaro.

Para fechar, o último fórum foi sobre a visão das ONGs sobre energias renováveis. Foi apresentado por Francisco Milanez, ex-presidente da Agapan, Ligia Miranda engenharia civil e presidente do Instituto TodaVida e Lucia Ortiz a conselheira da Amigas da Terra Brasil, uma organização que atua na construção da luta por justiça ambiental. Foi explicado que existem dois tipos de energia, a energia livre para a população e a energia livre para as corporações.É uma obrigação unir todas as forças democráticas para construir um país ambientalmente saudável, de acordo com os palestrantes. é necessário uma transição energética justa e democrática. “A discussão sobre transição energética justa é vital em nível nacional para estabelecer as prioridades que devem ser abordadas.” Explica Lucia Ortiz.

O setor de energias renováveis está em expansão, contudo, observa-se um aumento simultâneo na produção de energias “sujas”, tais como aquelas provenientes de usinas termelétricas.

Isso é resultado do aumento na oferta e na demanda. Atualmente, 20% da energia gerada no Rio Grande do Sul é solar. “Ao plantarmos florestas de árvores nativas, estamos contribuindo para o desenvolvimento ambiental dessas comunidades.” Finaliza Ligia Miranda.