Cresce o número de jovens eleitores em ano de eleições municipais

Marco Aurélio Charão

Foto: Site TSE

Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), quadruplicou a emissão de títulos eleitorais para jovens no país. O número passou de 20.770 alistamentos em 2020, para 83.622 em 2024. Vale ressaltar que o voto no Brasil é facultativo dos 16 aos 17 anos. 

Para entendermos o motivo desse crescimento, entrevistamos Angelo Müller, consultor de marketing e estratégia, com experiência em campanhas políticas e coordenação de campanhas políticas. Angelo esteve à frente da equipe de comunicação de candidatos ao senado e pré-candidatos a governador, escreveu discursos, jingles e roteiros para vídeos.

Qual o maior desafio das campanhas eleitorais hoje?

O público que realmente acompanha é o que vive a política, está realmente inserido, influenciado de alguma maneira. A média das pessoas não acompanha a política. Elas pesquisam mais sobre coisas que vão comprar do que em quem irão votar e, hoje, com tantas fontes é difícil saber em quem confiar, não tem tanta segurança, são muitas fake news.

Jornalista vinha com o compromisso moral de ser equilibrado, ouvir os dois lados. Com o tempo se perdeu isso, se faz muito jornalismo identificado, as pessoas hoje são bombardeadas com informações. As pessoas olham o feed, aquilo impacta, causa reflexo, as pessoas estão mais politizadas, mas à contra gosto. O jovem é revolucionário, é a sua natureza, mas nem por isso tudo que ele acessa está correto. 

O jovem olha pela política questionando. Nas minhas campanhas segmentamos o discurso, tem que ter essa sensibilidade dentro do marketing, falar a linguagem deles, trazer conteúdos atrativos, isso não é condenável, pois tu não deixa de estar fazendo campanha, mas está fazendo isso numa linguagem específica. Como exemplo, em uma das campanhas, peguei uma pesquisa e fiz uma segmentação do público, criei perfis para essa faixa, saber a dor do jovem e conseguir entendê-las.

Como explica a adesão dos jovens às eleições desde 2022?

A primeira coisa é que ficou difícil fugir da questão política. Em algum momento tu serás impactado por algo do teu interesse, por mais que tu não queiras. Como já disse, o jovem tem a disposição de querer revolucionar, de questionar, hoje tem pautas que interessam o futuro do jovem, como a ambientalização, os interesses pessoais. Hoje o jovem está vivendo esse mundo que não é mais quadrado, as pessoas evoluíram, estão mais politizadas, e é natural que queiram estar nessas pautas.

Como fazer com que as campanhas políticas cheguem até o público jovem?

A exemplo da educação, o que o jovem quer é entrar no mercado de trabalho, quer viajar, ter dinheiro próprio, e para isso tem que ganhar melhor e ter um trabalho, numa campanha que mostra que se preocupa com a educação do jovem, ele acaba ficando mais interessado. Chama a atenção logo na entrada, com a dor da pessoa e mostra o que tem que mostrar.

O acesso a internet é um exemplo. Em alguns pontos ainda não se acessa a internet direito, isso é uma dor do público que vive nas redes sociais, fazendo um projeto direcionado para isso, o jovem vai olhar para ti com bons olhos, desperta o interesse.

Saber a dificuldade e as dores, e encontrando no seu projeto a solução para isso, te colocando no lugar de ouvir, consegue ter a atenção das pessoas.

O conteúdo para o jovem tem que ser muito bom, apostar no tiktok, tem que ser criativo, conteúdo adaptado, tem que ser muito bom para atingir, já que estão acostumados com conteúdos rápidos e criativos.

Acha que há um desinteresse do jovem pela política? qual seria o motivo?

Tem a ver com valores a serem construídos, o jovem foge dessa conversa cultural, política, tem outras preocupações, tem uma visão limitada dos problemas que acontecem no mundo, não por preguiça, mas por inexperiência, se aprende muito com a vivência, a experiência, se aprende com o tempo, o jovem ainda não tem essa visão completa, tudo é urgente, a política não é o foco, por ser um tema muito técnico.

Quando fica muito complexo, principalmente para o jovem, que não teve a chance de aprender essas coisas, a complexidade acaba afastando-os desses temas, fora do alcance dele.

O jovem precisa pesquisar para votar, olhar com calma os candidatos, o que acredito, quais os meus valores, o que melhor te representar nesses quesitos.

O que podemos esperar para o futuro?

Jovens mais interessados. Discernimento e tentativa de solucionar as coisas, de uma maneira menos conflituosa, seria o mundo ideal para o futuro. Hoje é muito conflito, um mal caminho para o jovem.