Simplicidade e chimarrão: Pirisca Grecco fala sobre música e o novo trabalho na televisão

Apresentando um quadro diário na Masper TV, o artista relembra sua carreira de mais 30 anos e fala sobre o desafio de fazer televisão

Andrei dos Santos Rossetto

Texto de Lucas Rosa Brzezinski         

Foto: Tiago Benedetti / Divulgação

Sentado em um pequeno sofá no seu camarim, o músico Pirisca Grecco, 52 anos, olha para o repórter sentado em um banquinho com o computador no colo. Grecco observa a situação por alguns segundos. “Tu estás confortável?”, perguntou. Sem esperar resposta, tomou a iniciativa de usar uma mesa ampla com cadeiras, em uma sala da direção da Masper TV, onde apresenta o quadro “Cadê Pirisca?”.

A cena dá uma ideia da personalidade acolhedora do artista voltado à cultura sul-rio-grandense. Mas ainda faltava algo. O chimarrão, é claro. O cantor saiu da sala e logo voltou com uma cuia e uma térmica com água quente.

Com mais de 30 anos de carreira, não lhe faltam histórias para contar. Seu nome verdadeiro é Afonso Machado Grecco. Apaixonado por música desde cedo, aprendeu a tocar violão aos cinco com o tio Júlio Machado, sua principal inspiração. Com ele, também aprendeu a tocar gaita ainda criança.

Ser músico nem sempre esteve nos seus planos. Seu pai, que trabalhava em uma lavoura de arroz, gostaria que os filhos seguissem no seu negócio. Assim, Pirisca iniciou um curso de Administração em Uruguaiana, cidade onde nasceu. Depois, outro de Arquitetura em São Leopoldo, mas percebeu que não queria seguir em nenhuma das duas profissões.

“O mais difícil foi equacionar essa questão familiar. Frustrei uma expectativa da família, que queria que me formasse e trabalhasse ali em Uruguaiana”, conta. “O pai disse: Você quer ser músico? Seja. Mas eu não vou patrocinar tua carreira. Vá lá e dê o teu melhor”, relembra Pirisca, dando uma boa risada.

Quando questionado sobre o momento mais marcante da carreira, ele lembrou de sua estreia nos palcos em 1992, no café Expresso 356, em São Leopoldo. Sua família viajou 654 km de ônibus de Uruguaiana até a cidade da região metropolitana para lhe prestigiar. Pirisca também recordou sua primeira conquista do festival Califórnia da Canção Nativa do Rio Grande do Sul, em 2002, como um dia que gostaria de vier de novo — ele ganhou três vezes o importante troféu.

“Foi a música que me abriu os braços e o coração das pessoas. Eu tocava e vinha um sorriso, tocava no bar e vinha uma cerveja. Daqui a pouco eu já estava negociando um cachê. [O começo da carreira] foi deslumbrante”, afirma.

Aficionado pela cultura musical do Rio Grande do Sul, Pirisca Grecco diz que seu trabalho mais desafiador foi seu último álbum, intitulado “Ilexlândia”. Lançado em 2022, ele conta com participações de outros expoentes da música gaúcha como Humberto Gessinger, Serginho Moah, Thedy Corrêa, Luiz Marenco, Mauro Moraes, Victor Hugo, Tonho Crocco e Daniel Drexler.

No momento, o artista tem oito álbuns lançados por gravadoras. Porém, ele considera que tem nove discos no total. O primeiro foi gravado e “prensado” em casa. Pirisca chama o álbum de “CD zero”, pois foi o primeiro álbum que ele realizou.

Por não ter um salário fixo, ele considera que a insegurança financeira é a parte mais desafiadora em ser um músico. “No começo foi mais difícil. Todo janeiro eu repensava minha carreira. Vieram minhas filhas, veio o casamento e eu pensava: e se eu tivesse um emprego normal com um salário? Mas com o tempo a gente vai se acostumando”, afirma.

Há pelo menos 15 anos, o músico está à frente da banda Comparsa Elétrica que segue com a mesma formação: Rafa Bisogno, baterista; Duca Duarte, contrabaixo elétrico; Paulinho Goulart, acordeão; Texo Cabral,  flautista; e Clauber Scholles, técnico de som.

O local mais marcante onde tocou foi Hong Kong, em 2014. “Um lugar incrível, um lugar de cinema. É uma coisa surreal. Nunca imaginei que a minha gaitinha fosse me levar até lá e tocamos lá por dois anos seguidos”, relembra. “Foi um convite. Tem um CTG na China, por incrível que pareça, eu achei que era um trote [quando fui chamado para tocar lá]”, diz.

Além de músico, o artista agora é apresentador de televisão. De segunda a sexta, o cantor comanda o quadro “Cadê Pirisca?”. O quadro é exibidodurante o programa “Mosaico RS”, que vai ao ar na Masper TV, às 15h15. No programa, Pirisca aparece em algum lugar de Porto Alegre entrevistando um personagem relacionado à cultura. Suas entradas no programa são feitas ao vivo diretamente de seu telefone.

“Sinto a adrenalina todo dia antes de entrar no ar. Será que vai ter sinal? Está bom o som? Trabalhar na TV também me deu muito gás para viver, porque me obrigou a sair da minha rotina que era ficar em casa esperando o telefone tocar me pedindo um show. Aqui eu tenho um compromisso diário de gerar conteúdo”, explica.

Realizado profissionalmente, com oito prêmios Açorianos, três Calhandras de Ouro na Califórnia da Canção, mais de três décadas de carreira e vários continentes percorridos, o músico ainda tem outros objetivos que deseja alcançar.

Suas novas metas são uma síntese de quem é Pirisca Grecco: “Quero ver as filhas formadas, trabalhando felizes. Quero ser um vovô que tem um estúdio em casa, onde eu possa tocar, acolher a família e fazer um churrasco”.

Texto produzido para a disciplina de Jornalismo Especializado, sob supervisão da professora Paula Sperb.