Carlo Pianta, entre acordes e letras, uma vida dedicada à música

Guitarrista da Graforréia Xilarmônica viveu a vanguarda do rock e agora lidera projeto de artistas

Andrei dos Santos Rossetto

Texto de Teiga Júnior

Foto: Carlo Pianta (à dir.) integrou a vanguarda do rock gaúcho com a Graforreia Xilarmônica / Divulgação

Nascido nas paisagens sulistas de Porto Alegre em 1967, Carlo Pianta é uma figura central no cenário do rock gaúcho. Sua jornada, no entanto, ultrapassa as fronteiras da música, englobando uma ampla erudição em Letras, o domínio da guitarra, baixo e canto.

Sua carreira ressoa com a força de uma lenda viva do rock. Pianta tem sido uma figura central na evolução musical da capital gaúcha, entrelaçando sua paixão pela música com um compromisso profundo com a educação musical.

O artista começou sua jornada musical cedo, instigado pelo ambiente vibrante de Porto Alegre dos anos 1980. Formou-se na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), onde também completou mestrado e doutorado em Letras. A formação não apenas aprimorou suas habilidades técnicas, mas também o imergiu profundamente na música como uma forma de expressão cultural e social.

A década de 1980 viu o nascimento de várias bandas que definiriam o cenário do rock brasileiro. Pianta estava na vanguarda desse movimento. Como membro fundador da banda DeFalla, caracterizada pela audácia e rebeldia, explorou sonoridades experimentais que desafiavam as convenções da época.

Mais tarde, foi um dos fundadores da Graforréia Xilarmônica, onde era guitarrista. O estilo da banda é marcado por suas performances originais e pela mistura de influências regionalistas e internacionais, populares e eruditas, com vários discos gravados. Além destas, participou ainda das bandas Julio Reny & Expresso Oriente, Ceres e Os Ascensoristas.

O músico fez participações especiais na gravação da demo tape da Aristóteles de Ananias Jr. edestacou pelo seu estilo único que mesclava elementos do rock com a música regional gaúcha, contribuindo com sua energia criativa e uma busca constante por originalidade. Essa época, conforme descreve, foi marcada por um cenário dominado por uma elite cultural restrita, mas que foi progressivamente dando espaço a novas vozes e talentos.

Pianta não apenas fez história com suas bandas, mas também marcou a educação musical em Porto Alegre. A Escola de Música Beethoven, que dirigiu ao lado de Biba Meira entre 1995 e 2004, foi um berço para muitos artistas que hoje são nomes conhecidos no cenário musical brasileiro. Ele também esteve à frente do curso de Licenciatura em Música do IPA (Centro Universitário Metodista), onde formou inúmeros alunos até 2019. Sua pedagogia era marcada por uma profunda crença no poderda música como ferramenta de transformação social e pessoal.

O músico tem um olhar crítico e consciente sobre as mudanças sociais e políticas, com suas repercussões na educação e na música. Diante de um cenário de ascensão do conservadorismo, ele optou por se concentrar ainda mais na composição e performance, áreas onde sente poder expressar seus valores de humanismo e direitos universais sem restrições.

Sua atuação voltou-se mais para a composição e performance. Pois, inevitavelmente, as aulas são um espaço onde os valores da ciência, cultura, humanismo e direitos humanos são prioridade.

Mesmo nas últimas décadas, Pianta não mostrou sinais de desaceleração. Recentemente, ele mergulhou no mundo da música eletrônica e formou o Ensemble de Guitarras de Porto Alegre, além de colaborar com artistas de diversos gêneros musicais. Seu interesse contínuo em inovação é complementado por um respeito profundo pelas raízes do rock gaúcho e brasileiro.

Atualmente, Pianta lidera o Ensemble, que criou uma nova atmosfera para o estudo e a prática da guitarra na cidade, além de ter formado a banda Os Resistores, trabalha com o Tricúspide Trio, Ensemble de Guitarras do Brasil, 2Pianta e como professor particular. Como pesquisador, trabalha com análise musical e literária, canção popular, Psicologia Analítica e poesia brasileira.

A tecnologia também ocupa um espaço importante em sua visão musical, sendo vista por ele como um motor essencial para a evolução artística, desde o advento do som gravado até as inovações digitais.

Durante a pandemia, optou em ir morar na praia de Xangri-lá. Sobre o período, ele relata que o fez refletir: “Está claro que a música e o mar são a moldura da minha existência, onde minha família é a prioridade máxima. Gosto de cães e de olhar pro céu, caminhadas com o horizonte infinito das praias gaúchas. Na nossa casa, sempre que podemos, fazemos das refeições uma pequena festa, acho que vejo cozinhar e compartilhar uma expressão de amor”.

Quando questionado sobre seus ídolos, Pianta lista uma série de gigantes da música clássica e moderna, de Bach a Beethoven, dos Beatles a Hendrix, como também sua tendência ao pop com Beach Boys, King Crimson e Talking Heads. O gosto pela música brasileira aparece com Tom Jobim, mostrando seu amplo espectro de influências.

Apesar de reconhecer a fase áurea do rock como um tempo definido historicamente, que já passou, Carlo vê o futuro do gênero com uma dose de humor e realismo. Para ele, embora os dias de inovação frenética possam ter passado, sempre haverá espaço para novos talentos. Ele é reticente sobre a ideia de escrever um livro sobre sua experiência no rock, preferindo que outros narrem essas histórias enquanto ele continua a criar novas músicas.

Para Carlo Pianta, a música é mais do que som: é uma presença quase divina, um farol que guia e dá sentido à existência. Sua trajetória não é apenas uma série de notas tocadas ou cantadas, mas um diálogo contínuo com a cultura, a sociedade e a expressão do espírito humano. O músico segue sendo frequentemente citado como uma influência por novas bandas e artistas. Ele não apenas se destaca por suas habilidades musicais, mas também por seu foco na importância da música como forma de expressão social e pessoal. Suas letras e composições exploram temas que são universais, mas profundamente enraizados na realidade brasileira.

Carlo Pianta continua sendo uma figura central na cena musical de Porto Alegre, inspirando tanto veteranos quanto novatos com sua paixão e inovação.

Perfil produzido para a disciplina de Jornalismo Especializado, sob supervisão da professora Paula Sperb.