Pesquisa eleitoral: “O problema é a interpretação”, defende diretor do Methodus

Diferença entre as projeções e os resultados das urnas geram desconfiança popular

Fernanda Nascimento

Por Tiago Dariano e Nethely Oliveira

Reprodução: Antonio Augusto/Ascom/TSE/Flickr

Em 2020, as previsões das pesquisas em 15 cidades brasileiras divergiram significativamente dos resultados das urnas. Um dos exemplos mais emblemáticos foi em Porto Alegre, onde o Instituto Ibope apontava um empate técnico entre as candidaturas de Manuela D’Ávila (PCdoB) e Sebastião Melo (MDB), com 51% a 49%, respectivamente. A pesquisa foi divulgada na véspera da eleição. No dia, Melo recebeu 54,6% dos votos. A diferença aumentou o debate sobre a precisão das sondagens eleitorais.

Segundo, José Carlos Sauer, diretor do Instituto Methodus, o problema não está nas metodologias, mas na interpretação dos dados e na forma como essas pesquisas são conduzidas. “Não são as metodologias das pesquisas que estão erradas. O problema é a interpretação que se faz delas”, afirma. Ele explica que, apesar de corretas, certas técnicas, como pesquisas realizadas por centrais automatizadas de telefone ou redes sociais, acabam excluindo grandes parcelas da população. Isso ocorre porque nem todos os eleitores têm acesso ou disposição para responder através desses métodos. Segundo ele, “esse tipo de técnica não alcança, principalmente, a parcela mais pobre da população.”

Para Sauer, a pesquisa presencial é a técnica mais fidedigna, pois permite alcançar uma diversidade maior de eleitores e corrigir possíveis distorções durante o processo. “O pesquisador vai aos bairros, conversa com as pessoas, e garante que o perfil dos eleitores entrevistados seja fiel à realidade demográfica da cidade”, explica. Mesmo assim, ele ressalta que esse tipo de pesquisa é mais caro e difícil de ser realizado em larga escala, o que leva muitos institutos a optarem por métodos mais baratos, porém menos representativos.

Questionado sobre a influência das pesquisas no voto dos eleitores, Sauer rebate a ideia de que elas tenham o poder de alterar o comportamento eleitoral. “A pesquisa em si não tem essa potência toda. O que ela influencia é o apoio político e financeiro das campanhas, não o voto do eleitor”, afirma. No entanto, ele reconhece que um número pequeno de eleitores pode ser impactado, especialmente os indecisos que tomam a decisão na última hora. 

Diante dos desafios enfrentados pelas pesquisas eleitorais no Brasil, Sauer finaliza, reforçando a importância de aprimorar não apenas as técnicas de coleta de dados, mas também como os resultados são divulgados ao público. Ele destaca que, em um país com uma desigualdade social e econômica tão expressiva, é crucial que as pesquisas representem a realidade de todos os grupos, evitando distorções que comprometam a confiança do eleitorado. Para isso, Sauer defende maior transparência por parte dos institutos e uma interpretação mais crítica dos resultados, tanto pela mídia quanto pelos eleitores. Somente assim será possível recuperar a credibilidade das projeções eleitorais e garantir que elas cumpram seu verdadeiro papel: o de informar com precisão e responsabilidade às pessoas.