Ana Castela mostra por que é uma estrela  

Reportagem acompanhou bastidores de show da cantora em Bento Gonçalves

Andrei dos Santos Rossetto

Reportagem de Melina Pupe 

Ana Castela em show em Bento Gonçalves, em 19 de setembroLeandro Saucer, equipe Ana Castela / Divulgação

Mini boiadeiras e até uma avó com seu chapéu na cabeça ao lado da sua neta. Olhos brilhando e rostos repletos de expectativa. Elas estavam escoradas na grade que separava o público do palco. Dezenas de cartazes com as mais diversas frases, como “Cruza a fronteira e tira uma foto com a gente?” ou “Ana Flávia, me chama para o palco?” formavam a atmosfera de Bento Gonçalves – capital brasileira do vinho e parada obrigatória na serra gaúcha aos românticos e enófilos – no dia 19 de setembro de 2024. Todos ali aguardavam uma das maiores artistas do país, o fenômeno de apenas vinte anos, Ana Castela. 

“Essas pessoas se preparam por tanto tempo para estar aqui, para assistir a gente, né? Nós estamos todos os dias na estrada, mas essas pessoas estão esperando esse show acontecer por muito tempo e elas estão aqui para ver a Ana. Só que a gente faz o show também para elas”, disse a dançarina Bianca Patrocínio, a Bia do Ballet Boiadeira. Ela falou de maneira simples, demonstrando não se importar com o fato de repetir os mesmos passos nos quatro shows da semana.  

Nos bastidores, nas três horas que antecederam o show, recebi um pedido de uma mãe para levar a filha para tirar uma foto com a cantora. Mas também escutei histórias das mais loucas. Aquelas loucuras de fã que revelam um amor puro. A mãe da Marina, de apenas cinco anos, contou que esse era o primeiro show da vida da filha. Lucas, pendurado na grade com sua faixinha na cabeça, contou cheio de expectativa que esperou mais de um ano por esse momento. Gabriela chorava enquanto se aproximava a hora do show começar. Dona Neide, com a neta, revelou que a pequena Lara fez a família inteira virar fã. Martina, de oito anos, junto da irmãzinha de seis, contou que elas chegaram na fila um pouco antes das 16h para os portões que só abririam às 20 horas.  

Tudo parece ser tão mágico. Mas, para a Ana Castela existir, tem muita gente por trás fazendo o espetáculo acontecer. Muitas vezes se esquece da equipe que fica horas no ônibus, semanas longe da família e de casa quando o assunto é saúde mental. Rafael Castro, tecladista e produtor musical da banda, diz que, apesar das dificuldades, vê o trabalho como uma missão muito forte. Porque muitos queriam ter esse emprego devido à visibilidade nacional e oportunidades que o nome e tamanho da cantora proporcionam. Ele também relatou sobre a responsabilidade que carregam. Afinal, acabam ganhando muitos seguidores nas suas redes sociais quando os fãs descobrem que trabalham para a Boiadeira. 

Enquanto acontecia a troca de palco entre uma banda local e a da estrela da noite, um grande número de pessoas trabalha juntas para fazerem o show funcionar. Um troca-troca de instrumentos, encher os canhões com picotes de papel, configurar o computador que controla o andamento da apresentação, posicionar luzes, testar todos os microfones, a banda sobe no palco, dançarinas se posicionam.  

“Tem hora que a gente tem a dimensão do nosso trabalho. Mas tem hora que a gente cai numa rotina de diariamente estar fazendo isso. Então, a gente só entrega o show e se concentra”, diz Luisa Jordan, também bailarina e figurinista do Ballet Boiadeira. O tecladista Rafael Castro conta que o mundo para em seu entorno quando ele se posiciona em seu lugar do palco.  

De bota dourada e chapéu caramelo 

Pelo pavilhão da ExpoBento ecoa a contagem regressiva: cinco, quatro, três, dois, um! A típica introdução do show da Ana Castela começa. Crianças nos ombros dos pais e centenas de celulares gravando a passagem por onde ela entraria. Os gritos se iniciam. Ela caminha para o palco quadrado, com público para todos os lados. 

De bota dourada e chapéu caramelo, Ana Castela atravessou um corredor que dividia dois setores do evento. Ela voltou a ser a Ana Flávia enquanto esperava em frente a uma escada de cinco degraus para subir no palco. Ela respirou fundo, do jeito que tenta mostrar para o corpo que está tudo bem, misturado com um pedido de proteção — ritual que a cantora costuma fazer antes das apresentações. O tempo pareceu parar, não só para os meus olhos observadores e para a própria cantora, mas para todos aqueles que esperavam a jovem fazer o que ela faz com tamanha maestria. Ao colocar o pé no primeiro degrau, automaticamente, a Ana Flávia voltou a ser a Ana Castela. Com seu sorriso fácil e cativante, a Boiadeira caminhava sobre o palco com seus dois braços levantados se direcionando ao ponto do quadrado em que iniciaria seu show. 

“Aqui é a Boiadeira, estão preparados para o pi-po-co?”, fala a cantora enquanto faz sua típica dança, sendo entoada pelas milhares de vozes presentes. O show da estrela começa. Ali de fato, entende-se o porquê de tamanho sucesso. “Boiadeira”, “Fronteira”, “Minha Herança”, “Tô Voltando”, “Nosso Quadro”, “Solteiro Forçado” fazem parte da lista de músicas cantadas. Mas nem só de músicas favoritas dela o show rolou. Ana riu e brincou, antes de fazer a alegria de seus admiradores com “Neon”: “Cêis querem enganar mentiroso? […] Olha o que eu não faço… sorte que eu dormi bem!”.  

O clássico bloco de modões sertanejos foi substituído por tradicionais cânticos gauchescos. “Já passou da meia noite, né? Feliz ‘Dia do Gaúcho’ gente!”, falou, usando um lenço com o símbolo do Rio Grande do Sul estampado. Ela cantou de forma animada ao lado de Cris, seu gaiteiro, e do público: “Querência Amada”, “Não Chora Minha China Véia” e “Castelhana”. É difícil identificar se a Boiadeira ama mais o povo gaúcho ou se, nós gaúchos, amamos mais ela. 

Depois a energia caótica, leveza e animação da jovem de vinte anos tomou conta da ExpoBento com um remix dos hits do momento: “A Jiripoca Vai Piar”, “Joga pra Lua”, “Olha o Trem”, “Sonho Dela”, “Cavalinho”. Ela dançou e pulou ao lado de seu balé e banda antes de engatar nas suas animadas que explodiram no Tik Tok. 

Em determinado momento do show, Ana deixa o palco descendo a pequena escada indo em direção ao público. Foram mais de cinco minutos dando a volta ao redor do palco 360° enquanto abraçava, encostava, conversava e tirava fotos com aqueles que tinham conseguido um lugar na grade no evento. Duas meninas que aparentavam ter pouco menos de dez anos se olharam encantadas sem acreditar após a cantora passar por elas. Ana deu um gole em seu copo de água e avistou uma criança levantando um cavalo da Barbie em sua direção. Com ajuda de sua assessora, o brinquedo logo parou nas mãos da Boiadeira que, sorrindo, falou fora do microfone com a pequena menina que chorava de emoção. “É o meu cavalo Blake? Amei! As minhas Barbies vão amar! Vou deixá-lo ali…”, colocando-o com todo cuidado em uma mesinha de apoio do palco. 

Após o show, enquanto Ana passava apressadamente pela área reservada em direção a sua van, acompanhada de sua assessora pessoal e seu segurança, um dos DJs que abriu seu show pediu uma foto. Em seguida, ela me olhou com seu olhar que sorri sem precisar de muito e me deu oi. Feliz, retribui. Nos abraçamos. Consegui entender o porquê de tamanho sucesso. 

Reportagem produzida para a disciplina de Reportagem e Entrevista, sob supervisão da professora Paula Sperb.