Nas Olimpíadas desde 1936, handebol luta por valorização no Brasil 

Dois atletas que disputaram os Jogos Olímpicos explicam como o esporte pode avançar no país

Andrei dos Santos Rossetto

Reportagem de Joaquim Porto 

No centro, o repórter Joaquim Porto (Liga Atlética de Handebol, de camiseta amarela e azul marinho) marca o treinador Carlos Luciano Ertel (UDEP Medicina PUCRS, camiseta branca e preta), que precisou jogar para substituir um atleta durante partida em Novo Hamburgo, no início de novembro. Foto: Bibiana Sandhas.

Mesmo sendo um esporte olímpico desde 1936, o handebol ainda é considerado uma modalidade amadora por muitos no país.  “O handebol até hoje no Brasil é um esporte amador, por mais que os atletas ganhem um salário, não tem contrato de trabalho”, diz o ex-atleta, duas vezes olímpico, Carlos Luciano Ertel, conhecido como Menta 

Menta, entre um gole de café e outro durante a entrevista concedida na sua casa, revelou: “Eu fui 18 anos profissional sem um dia de carteira assinada”. Isso é algo que até os dias atuais assombra muitos atletas da modalidade, pois não se tem uma garantia para suas carreiras e vidas.  

“A solução seria profissionalizar”, exclamou Menta, após ser perguntado se via alguma solução para esse amadorismo que vive o handebol. Ele ainda deu exemplos de como patrocínios poderiam ser feitos, por abatimento de imposto de renda, dando o exemplo do Instituto Ayrton Senna, que realiza este processo. Isso pelo fato de empresas privadas poderem patrocinar equipes esportivas e com isso abaterem no imposto de renda. 

Menta tem em sua bagagem a participação nos Jogos Olímpicos de Atlanta, Estado Unidos (1996), em que o Brasil conquistou a décima primeira colocação, e em Pequim, China (2008), ficando também em décimo primeiro lugar. Além de ser bicampeão Pan-americano, em 2003, na cidade de Aracaju, e em 2007, no Rio de Janeiro, e uma vez medalhista de prata em Winnipeg, Canadá no ano de 1999. Este foi o momento mais marcante da sua careira tão vitoriosa, conta Menta. Curiosamente, foi uma derrota. Ele também participou de sete campeonatos mundiais somados, um deles sendo universitário, um na categoria júnior (sub21), e os demais na categoria adulto. 

Menta começou sua trajetória no esporte ainda quando criança, nas “canchas” de sua escola, em Canoas (RS), onde havia cinco quadras esportivas para os estudantes. Após alguns anos, essas quadras acabaram virando um estacionamento, prejudicando muito quem as utilizava. Já com 18 anos, o jogador decidiu se aventurar e se transferiu para o clube de Itajaí (SC), após passar na seletiva do time. Antes, ele ganhou tudo no cenário estadual gaúcho, no time CACC Canoas, clube de handebol já extinto.  

Segundo ele, a mudança para Santa Catarina foi para ter uma melhor oportunidade de vida. Na época, pensou: “Vou fazer o que eu amo e os caras vão me pagar para isso”. Menta também possui passagens muito vitoriosas pelas equipes Metodista (SP), São Caetano (SP), Vasco da Gama (RJ), e Ademar de Leon, da Espanha. Além disso, conquistou diversos campeonatos estaduais por onde passou, além de quatro ligas nacionais, campeonato mais importante de clubes do Brasil. 

Atualmente, aos 49 anos, Menta está treinando a equipe UDEP Medicina PUCRS, que participa de diversos torneios universitários e campeonatos abertos. No início de novembro, participando do campeonato aberto de Novo Hamburgo, Menta voltou às quadras pelo próprio time da UDEP. Treinador voltou a ser jogador. Ele substituiu atletas impossibilitados. Ele entrou em quadra com sua clássica camisa de número cinco e seus compridos cabelos presos no estilo “coque”, além de sua faixa de capitão cor de laranja florescente. Menta contagia seus companheiros: “Vocês não têm boca, não? Vamos vibrar e ajudar aí, pô”, exclamou. Ele convidava seus companheiros que estavam sentados no banco de reserva, mostrando sua liderança e experiência.  

Na seleção brasileira, também se acredita que o handebol pode receber mais apoio. Leonardo Vial Terçariol, o Ferrugem, goleiro do time do Brasil, afirma que “o esporte é algo cultural, e que poderia ser feito alguns incentivos para chamar a atenção das mídias de maneira geral”. Ferrugem já participou dos Jogos Olímpicos de Tóquio (2021) – “um sonho desde adolescente” – e atualmente defende o BM Torrelavega, da Espanha. 

Além disso, em entrevista por rede social ao repórter, o atleta sugeriu uma “olímpiada nacional” de dois em dois anos, com seletivas estaduais, para que essas “olímpiadas” possam ter atenção de jornais, rádios, televisão e streaming. A cobertura valorizaria muito mais os esportes que não estão nas grandes mídias constantemente, defende Ferrugem. 

“Um país como o nosso tem muita matéria-prima esportiva e com certeza iríamos ser um celeiro de campeões olímpicos”, diz Ferrugem.  

O handebol no Brasil 

O esporte foi trazido ao Brasil, vindo da Alemanha, há cerca de 100 anos. O handebol apareceu pela primeira vez nos Jogos Olímpicos, em 1936, em Berlim. Inicialmente, a disputa olímpica era apenas com o naipe masculino.  

Nessa época, era jogado ao ar livre, em um campo com dimensões similares ao campo de futebol. O handebol mais parecido com o que é praticado nos dias de hoje (em quadras cobertas, com a dimensão de 40x20m) foi inserido na edição de 1972, em Munique. Já as mulheres ganharam seu espaço apenas nos jogos de 1976, em Montreal.  

A estreia da seleção brasileira masculina nos Jogos Olímpicos, foi protagonizada em 1992, em Barcelona, ficando na 12ª colocação. A melhor colocação da história foi o sétimo lugar, em 2016, no Rio de Janeiro. Já a equipe feminina fez sua estreia nos jogos de 2000, em Sydney. Desde então, estiveram presentes em todas as edições. A melhor participação das “leoas”, como são conhecidas, foi também em 2016, ficando com a quinta colocação. Mesmo nunca tendo se sagrado campeãs olímpicas, nossa seleção feminina foi campeã mundial em 2013, após vencer a Sérvia por 22×20, que estava sediando o evento, na final. 

Reportagem produzida para a disciplina de Reportagem e Entrevista, sob supervisão da professora Paula Sperb.