Casa de Cultura e Cinemateca Paulo Amorim reabrem as portas após enchente 

Locais passaram por processos de restauração depois de serem inundados pela água em maio deste ano

Andrei dos Santos Rossetto

Reportagem de Filipe Plentz Munari 

Sala Paulo Amorim. Foto: Bruna Haas

Com parte significativa de Porto Alegre afetada pelas enchentes de maio, um local importante para a cultura foi extremamente danificado: a Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ), no Centro Histórico. Ali funciona também a Cinemateca Paulo Amorim, igualmente prejudicada pelas águas. Os espaços passaram por intensos processos de restauração.  

Germana Konrath, diretora da CCMQ e do Departamento de Artes e Economia Criativa da Secretaria de Estado da Cultura, conta sobre como se deparou com a situação, após as águas baixarem. “Nossa equipe ficou perplexa. Nossos danos foram materiais. Mas, claro que havia, para além disso, uma tristeza e uma melancolia de ver um prédio que geralmente recebe 30 mil pessoas por mês fechado”, relata. 

Curadora e coordenadora da Cinemateca Paulo Amorim, Mônica Kanitz se mostrou comovida com a situação. “A gente viu que estava tudo alagado aqui. Eu tinha vindo no dia 6 com a esperança de poder entrar, mas não tinha como com a água assim pelo joelho. Era uma situação meio desesperadora, porque a gente não sabia o que que ia acontecer”, lembra Kanitz.  

Ela ainda recorda de como encontrou uma das salas do cinema. “A gente sabia que a água tinha entrado aqui dentro. Agora, a gente não tinha ainda dimensão do estrago. No dia 18 de maio, a gente conseguiu entrar pela primeira vez. Foi muito triste. Foi de chorar. Porque tu imaginas isso aqui, essas poltronas estavam todas muito encharcadas. Tudo já mofando, essa poltrona já estava ficando branca. Aqui o chão era tudo cheio de barro, né? Então isso aqui tudo se perdeu. Era uma escuridão porque não tinha luz. A gente entrou com lanterna de celular olhando tudo. Foi uma coisa devastadora. Até porque a gente não tinha noção do que ia acontecer depois. Tipo, como é que a gente vai conseguir recuperar isso? O que que a gente vai poder fazer?”, relembra a coordenadora da Cinemateca. 

Na CCMQ, o processo de restauração começou no dia 21 de maio, tendo continuidade nos demais dias. No dia 28, uma equipe de engenheiros realizou uma visita técnica para revisar as subestações de energia elétrica, onde disjuntores foram trocados. A Secretaria de Obras do Estado também auxiliou. Para analisar esquadrias e itens a serem restaurados, a equipe da Arquium, empresa que já atende a Casa em outras reformas, foi acionada. Foi realizado também o bombeamento e a drenagem da água no fosso dos elevadores para que fosse possível avaliar e restaurar os circuitos do sistema. 

Kanitz ainda complementou, ressaltando os cuidados por se tratar de uma construção antiga. “Isso aqui é um prédio de 1930. Então, ele tem coisas originais da época como as portas, o piso, tudo isso tem que ser tratado com muito cuidado. Acho que a principal dificuldade é essa”, fala sobre o patrimônio.  

Com o fechamento de ambos os espaços, diversos eventos culturais foram cancelados. “Toda a programação foi suspensa [naquele momento], como novas exposições, atividades do projeto Educativo da Casa, teatros e cinema”, explica Konrath. Ela ainda conta como a CCMQ realizou eventos externos para fomentar de forma gradativa a retomada de seus eventos: “Entre junho e agosto, a Casa passou a organizar eventos com infraestrutura externa para fomentar a retomada gradual da programação cultural do Centro Histórico de Porto Alegre – como o Arraial do Quintana, o Sarau Livre, a feira de empreendedorismo feminino Amora e o Samba do Quintana. Em 14 de agosto, com uma cerimônia de abertura na Travessa Rua dos Cataventos, a Casa reabriu, sempre com a intenção de propor uma reconstrução coletiva, e não esperando uma”, diz. 

Já na Cinemateca, Kanitz contou bastante desanimada sobre a perda destes eventos. “Logo que a gente reabriu eu consegui trazer algumas estreias ali de alguns filmes que teriam passado nesse período. Filmes que eram bem importantes, Assim lembra o testamento, O mal não existe, que são filmes que estavam previstos. Então teve um público bacana, agora é impossível abarcar, impossível contemplar tudo que ficou fora assim, não tem como ”, conta. 

Ela ainda chegou a explicar que nenhum filme foi perdido durante as enchentes e que a Cinemateca Paulo Amorim, não possui um acervo.  

De acordo com as entrevistadas, a Casa de Cultura e a Cinemateca receberam mais de 25 milhões do governo do Estado e do Banrisul. Kanitz ainda complementou sobre o apoio recebido, principalmente da equipe de arquitetura. A coordenadora da Cinemateca fez questão de mostrar o desenrolar das obras da Sala Paulo Amorim, finalizadas em setembro.  

Ambas ainda comentaram sobre o apoio da comunidade, tendo recebido diversas ligações de frequentadores que ofereceram toda ajuda possível, inclusive para funcionários da instituição que perderam tudo durante as enchentes. “Muita gente, muito frequentador nosso ligava perguntando como podia ajudar. Tivemos alguns funcionários que perderam tudo. Então, teve ajuda nesse sentido”, comentou Kanitz.  

Konrath não dispensou elogios ao comentar sobre o apoio da comunidade, destacando o quão fundamental foi no processo de retomada da CCMQ, participando de diversos eventos que ocorreram na Travessa dos Cataventos. O Arraial do Quintana, a festa junina da Casa de Cultura, contou com a participação de mais de 800 pessoas. Ela ainda destacou que eventos como esse ajudaram não só a casa, como todo o Centro Histórico, principalmente os estabelecimentos comerciais parceiros da Casa, que foram impactados direta ou indiretamente, pela enchente. 

Kanitz ainda enfatizou a importância dos governantes para que possamos nos precaver de que algo dessa magnitude aconteça de novo: “A gente espera realmente é que os governantes façam a parte deles, né?”. 

Reportagem produzida para a disciplina de Reportagem e Entrevista, sob supervisão da professora Paula Sperb.