Opinião: Minecraft, um filme para atrofiar o cérebro

Artigo analisa relação do fenômeno “brainrot” e filmes infantis

Jornalismo Especializado

Por Vinícius Goulart


Há temas muito mais complexos e interessantes a serem explorados no cinema do que Minecraft, um filme infantil estrelado por Jack Black e Jason Momoa. Contudo, esta crítica não é exatamente ao filme em si, mas à cultura “brainrot” à qual o público infantil desta geração está exposto. Uma obra cinematográfica que mais parece um reels estendido por uma hora e quarenta minutos.
A sala de cinema transforma-se em um verdadeiro zoológico: crianças gritando diante do fanservice exagerado, combinado a uma narrativa pobre e entediante. Ainda assim, é compreensível o entusiasmo de uma geração que vive sob telas desde o nascimento — e que, provavelmente, já tem parte do córtex pré-frontal comprometido pelo excesso de reels e TikTok, gerando descargas irregulares de dopamina em suas mentes em desenvolvimento.
Nem entrarei no mérito dos jovens adultos que cresceram assistindo vídeos de youtubers de Minecraft e agora vão ao cinema vestidos de terno, gritando como crianças sempre que aparece alguma referência ao criador de conteúdo favorito da infância. Soma-se a isso o fato de muitos abrirem as redes sociais no meio da sessão para ficar “scrollando” o feed, incapazes de manter a atenção por mais de dois minutos — o cérebro já tão saturado que não consegue mais se concentrar em nada.
Esses vícios e infantilizações derivam da famigerada cultura brainrot, que se popularizou nos últimos anos: conteúdos curtos, rasos, perversamente cômicos, sem crítica, sem narrativa e sem sentido. Frases desconexas com sonoridade viciante, repetidas em looping. É com esse tipo de estímulo que muitas crianças estão sendo “educadas”.
Ouvir coisas como “Tung tung tung tung sahur” ou “Tralalero tralala” antes, durante e depois da sessão tornou-se comum. Gerações inteiras estão sendo emburrecidas em tempo real, absorvendo conteúdos infinitos sem qualquer troca real de informação. Isso afeta diretamente a evolução do cérebro, comprometendo o aprendizado, o raciocínio e o senso crítico.
Ainda assim, surgirão as críticas costumeiras: “Mas é um filme infantil, é pra desligar o cérebro.” Definitivamente, não. Este não é um filme para desligar o cérebro — é um filme para atrofiá-lo. Quantas outras obras infantis, clássicas ou contemporâneas, apresentavam contextos lógicos e morais às crianças? Dumbo, por exemplo, com sua crítica ao bullying. O Rei Leão, ao abordar temas como aceitação, lealdade e amizade. Ou ainda Divertidamente, que mostra de forma leve e sensível a complexidade das emoções e como elas afetam nossas ações, tratando com sutileza assuntos como depressão e ansiedade.
O argumento de que “é só um filme infantil” simplesmente não se sustenta. Crianças são complexas — se não mais do que os adultos —, e seu raciocínio deve ser estimulado desde cedo. É na infância que surgem os interesses mais genuínos, as dúvidas mais criativas. É ali que se forma o adulto pensante, funcional, extrovertido e, acima de tudo, produtivo.