Editorial: O J não parou durante as enchentes 

Programas ao vivo e reportagens de impacto foram realizados no momento crítico da tragédia e as produções sobre o tema seguem em desenvolvimento

Fernanda Nascimento

Por Fabio Canatta

Imagem: Sofia Villela

As enchentes de maio, que deixaram Porto Alegre debaixo d’água, também provocaram a suspensão das aulas em todos os níveis, do fundamental ao superior. Na PUCRS, não foi diferente. No dia 4 de maio, o semestre foi paralisado. A Universidade centrou os esforços de toda a comunidade acadêmica no acolhimento de desalojados. Professores e alunos das mais diferentes áreas passaram a trabalhar no Parque Esportivo em atividades que iam do recolhimento e separação de doações ao atendimento médico, odontológico e emocional das pessoas que tinham deixado as suas casas para trás. 

Diante de um acontecimento de repercussão internacional como aquele que todos vivemos, professores e alunos do curso de Jornalismo da Escola de Comunicação, Artes e Design, a Famecos, resolveram colaborar da sua forma. O Laboratório de Jornalismo (Lab J) produziu uma cobertura jornalística que combateu a desinformação, deu visibilidade para o trabalho da imprensa e – como já é tradição – colocou os alunos na linha de frente dos principais acontecimentos, produzindo reportagens de impacto social. 

A rotina de trabalho envolvia estudantes e professores em uma reunião de pauta diária por videochamada. O encontro servia para organizar as atividades e definir a estratégia do dia. Diante daquele mar de desinformação que circulava nas redes e de todas as dificuldades que a cidade oferecia naquele momento para o trabalho de apuração – falta de transporte público, instabilidade no fornecimento de energia elétrica e também no serviço de internet -, o grupo entendia as limitações e fazia as suas apostas em pautas específicas. 

Um dos pontos altos da cobertura foi a atenção dada para o trabalho da imprensa. O Laboratório entrevistou ao vivo, numa série de três episódios, jornalistas que estavam nas ruas, superando os desafios no intuito de levar informação de qualidade para a sociedade. Luís Gomes, repórter do Sul 21, falou sobre o papel de um veículo independente na cobertura das enchentes. Isadora Aires, na época repórter da CNN Brasil, tratou dos desafios de retratar a tragédia para o restante do Brasil e ainda das dificuldades colocadas ao entrevistar pessoas em situação de vulnerabilidade. Por fim, no último episódio, o repórter e apresentador da TV Globo Flávio Fachel, formado pela Famecos, analisou a importância do trabalho da imprensa naquelas circunstâncias, na perspectiva de prestar um serviço público, fundamental no dia a dia. 

Outro momento marcante foram as saídas de campo para registrar a rotina da cidade naquele momento. Ruas vazias, paradas de ônibus silenciosas e o comércio quase todo fechado. Em uma dessas saídas, a Anita Ávila e a Sofia Vilela foram acompanhar a transmissão ao vivo do Jornal Nacional, o maior telejornal do Brasil, direto do ginásio do Parque Esportivo, que acolhia desalojados naquele momento. Como resultado, fizeram uma entrevista em vídeo com o editor-chefe e apresentador do JN William Bonner. A postagem alcançou 600 mil pessoas. 

Por fim, não posso deixar de mencionar as reportagens, que tentaram ocupar lacunas identificadas por nós nas coberturas da imprensa em geral. Por exemplo, num cenário de constantes problemas no abastecimento de água, a população passou a usar fontes públicas, naturais, o que gerou uma discussão em torno da qualidade para o consumo. A nossa apuração apontou que eram impróprias e continham até coliformes fecais. Outro caso tratado pela nossa equipe de estudantes foi a percepção que as Secretarias Municipal e Estadual de Saúde estavam dando orientações contraditórias em relação ao tratamento de casos suspeitos de leptospirose, que resultariam num surto tempos depois. Enfim, foi com jornalismo de qualidade que o Lab J deu a sua contribuição num momento no qual, além das chuvas, a desinformação e as informações falsas também faziam vítimas, gerando medo, incertezas e dificultando ainda mais a solução para os problemas trazidos pelas enchentes.