Músicas inéditas apostam na qualidade das letras e clássicos foram revisitados em novo álbum do artista

Armandinho lança novo álbum, “Se o Tempo Passa”, com três músicas inéditas e as clássicas do artista. Crédito: Bernardo Souza, LabJ

Por Bernardo Souza

Sem muito alarde, com novidades e velhas conhecidas, Armandinho — o “pinta que é afudê” — lançou depois de 13 anos um álbum que apresenta três novidades. O disco também organiza a maioria dos últimos singles que vinham sendo lançados nas plataformas digitais. Com 18 faixas, “Se o Tempo Passa” é um retrato do amadurecimento do artista que, desde seu primeiro lançamento, em 2001, lidera as paradas do reggae no país.


O CD — como diriam os astecas — pode ser classificado como uma coletânea, pois contém mais hits dos últimos anos do que músicas inéditas. Uma boa maneira de reorganizar a discografia, pois os últimos lançamentos haviam sido singles, formato de distribuição da obra de maneira avulsa. Em alguns casos, foram lançadas juntas duas músicas, por vezes uma organização de quatro ou mais que vêm com o rótulo de EP. Estes dois formatos vêm dominando a indústria musical nas últimas décadas.


O lançamento mostra que Armandinho é resistência, pois além de ter uma banda consolidada, que reúne músicos renomados e que estão juntos na estrada há muito tempo, aposta na qualidade das letras e no groove durante os shows.


A organização do álbum conta com três inéditas e 15 músicas já conhecidas do público. Algumas, inclusive, sofreram alterações, como “A Montanha e o Mar”. A faixa possui duas versões: a lançada em 2025 traz mais elementos, como riffs e solos de guitarra. Nela, a bateria aparece mais, o baixo conduz a dança com precisos momentos de silêncio, o que faz sua presença ser ainda mais notada — por mais paradoxal que a frase possa soar. A nova versão deixa de lado a pegada mais acústica, que parece uma cantiga de roda em um acampamento após uma trilha na montanha, resultado da percussão e da presença do coro vocálico da banda nos refrões.


Já “Joia Rara” ressurge com mais presença sonora e uma alteração na letra durante o pré-refrão. Na versão original, lançada em 2017, ouvia-se: “Mas se ela for só minha, enquanto tá comigo e for bom”. Na versão de 2025, a frase mudou para: “… enquanto tá comigo, enquanto amor é bom”. Do ponto de vista da métrica musical, a alteração deixa a música mais preenchida. Ponto para a banda. “Eu fico no horror com esse loco”.


Outros singles foram remasterizados e parecem ter mais volume em relação às versões anteriores. Para identificar e comprovar tantas mudanças, utilizei monitores de referência profissionais e fones de alta qualidade. Já as três músicas inéditas apresentadas no disco mostram por que Armandinho é considerado um hitmaker. Com letras de qualidade — em um país onde a indústria fonográfica segue por um caminho oposto — ele reafirma seu estilo.


A faixa que abre o álbum e leva o nome do disco, “Se o Tempo Passa”, começa com a clássica virada de bateria que remete aos reggae-hits jamaicanos dos anos 70 e 80. O groove vem do baixo-vanerão, como define o próprio artista em seus shows, somado a uma guitarra afiada, gravada especialmente por Coringa, primeiro guitarrista da banda, conforme revelado em primeira mão pelo baixista Pedro Porto. A letra traz reflexão e positividade, assim como as demais inéditas, que, quando ouvidas com atenção, transportam quem ouve diretamente à beira da praia.