MARGS foi sede de todas as 14 edições da Bienal do Mercosul

O MARGS é um dos 18 estalos que estão sediando a décima quarta Bienal do Mercosul.

Andrei dos Santos Rossetto

Reportagem de André Maciel e Vítor Campos

Museu de arte do Rio Grande do Sul / Foto: André Maciel

O MARGS abriga obras de oito artistas de diversas nacionalidades, apresentando uma alta variedade de linguagens artísticas, sendo um dos maiores destaques da bienal.

Amol K. Patil (Índia, 1987).

Nascido na Índia, em 1987, e morador de Amsterdã, na Holanda, Amol K. Patil é um artista conceitual e performer cuja prática abrange desenho, pintura, instalação, vídeo e arte cinética. Sua obra Reminiscence é uma instalação sensorial que remete ao legado de seus antepassados, membros de um grupo de performers itinerantes. A peça convida o espectador a uma experiência meditativa, evocando a força e a vibração da expressão artística como manifestação e mobilização.

Awilda Sterling-Duprey

Nascida e residente em San Juan, Porto Rico, Awilda Sterling-Duprey (1947) é uma artista multidisciplinar que trabalha com pintura, performance, dança e som. Sua prática explora temas como identidade, gênero, diáspora, linguagem e migração. Na Bienal, apresenta a performance Blindfolded, na qual traduz música por meio de movimentos corporais, criando “desenhos-dançados” em resposta às improvisações despertadas pelo jazz.

Froiid

Froiid (Brasil, 1986) é um artista multidisciplinar que explora as intersecções entre jogo, arte, cultura periférica brasileira e tecnologia. Sua instalação Carnavais na Bienal evoca a memória de Heitor dos Prazeres por meio de 100 ilustrações geradas por inteligência artificial e uma composição sonora de geração imediata, ambientadas por um televisor que visualiza o som compartilhado. Atualmente, ele vive em Belo Horizonte, Minas Gerais.

Fyerool Darma

Nascido em Singapura em 1987, Fyerool Darma utiliza referências de sua herança malaia misturadas à cultura pop, materiais de arquivo, internet e literatura. Sua instalação Gemer§ik parte da queda de um nano satélite desativado e constrói uma narrativa ficcional com sons e vibrações que remetem a fricções culturais, políticas e tecnológicas.

Gretchen Bender

Nascida em Seaford, Delaware, Bender (EUA, 1951-2004) viveu a maior parte da vida em Nova York. Foi uma artista visionária que usou vídeo, escultura, gravura e televisão para criticar a cultura de massa e a influência da mídia corporativa. Sua obra Dumping Core (1987) combina vídeos e monitores para refletir sobre a saturação das imagens no mundo contemporâneo.

Heitor dos Prazeres

Heitor dos Prazeres (Brasil, 1889-1966) foi pintor, compositor e marceneiro. Iniciou na pintura por volta de 1937, como autodidata, estimulado pelo jornalista e desenhista Carlos Cavalcanti. Sua obra Frevo (1964), em exposição, expressa a energia do carnaval pernambucano, refletindo seu compromisso em retratar a cultura popular das periferias cariocas. Participou e foi premiado na 1ª Bienal Internacional de São Paulo. Morou no Rio de Janeiro a vida inteira.

Nereyda López

Nereyda López (Cocama/Tikuna, Peru, 1965) é uma escultora de ascendência Cocama e Tikuna. Suas obras são produzidas com fibras naturais e madeira extraídas da floresta, trazendo à tona personagens dos mitos que herdou de seus antepassados. Entre elas, destacam-se Espíritu de buri buri e Madre de la chambira, que evocam equilíbrio e espiritualidade amazônica. Atualmente, vive em Pebas, Peru.

Özgür Kar

Özgür Kar (Turquia, 1992) trabalha com vídeo, som, performance e instalação. Sua prática é uma reflexão sobre o existencialismo contemporâneo, com foco nas interconexões entre a mídia digital e o corpo humano. Sua obra Storage Drama apresenta animações minimalistas em loop, transformando televisores em esculturas digitais que exploram a sobrecarga sensorial e o impacto das mídias digitais sobre a existência humana. Atualmente, reside na capital holandesa, Amsterdã.

Uma das obras expostas no MARGS nessa Bienal / Foto: André Maciel

História

Ao contrário de outros museus, que possuíam um acervo pronto antes de sua criação, o MARGS foi fundado em 27 de julho de 1954 sem um conjunto de obras ou sequer uma sede própria.

O nome foi escolhido pelo pintor Ado Malagoli, que adotou a orientação de sempre atualizar o acervo, dando prioridade às obras contemporâneas regionais e nacionais, dando visibilidade à arte brasileira e gaúcha e mostrando a modernização do Brasil na arte. A primeira exposição aconteceu um ano após a criação do museu, na Casa das Molduras, em 1955, e completará setenta anos em 2025.

Como começou suas atividades sem um local fixo, o museu mudou algumas vezes de sede, começando no foyer do Theatro São Pedro. Porém, na década de 70, com o fechamento do teatro para reformas, o MARGS se mudou para o edifício Paraguay, na avenida Salgado Filho. Em 1978, se mudou para o prédio atual. 

A partir da década de 80, o MARGS começou a receber mais visibilidade, realizando eventos de grande impacto. Nos anos 1990, foram feitas diversas reformas no prédio, devido ao avançado estado de deterioração. Com a reforma, houve uma forte expansão das atividades, tanto no cenário nacional quanto internacional. Em 2007, a parte externa do museu foi revitalizada.

Enchente 

MARGS Inundado pelas enchente de 2024 / Foto: Alan Mendonça Furtado

Em maio de 2024, o Rio Grande do Sul foi atingido pelo maior desastre natural de sua história, que também afetou o MARGS. O prédio e o acervo sofreram avarias causadas pelas águas, e mais de 4 mil obras foram danificadas em algum nível, o que corresponde a cerca de 70% do acervo, que foi recuperado com o aporte de mais de R$ 5,6 milhões, segundo o governo do estado. Após meses de obras de restauração, o local reabriu em dezembro com uma exposição sobre a inundação.