Exploração de petróleo na costa gaúcha pode impactar baleias e golfinhos

Para detectar petróleo, canhões disparam sons de alta intensidade e baixa frequência; disparos podem causar danos no aparelho auditivo dos cetáceos

Jornalismo Especializado

Universidade Federal de Rio Grande (Furg) estuda impacto sobre animais marinhos. Na foto, a praia do Cassino, em Rio Grande | Crédito: Camila Domingues/Palácio Piratini

Por João Pedro Cecchini

Enquanto avançam as pesquisas para identificar o potencial exploratório da Bacia de Pelotas, que se estende por toda a costa gaúcha, cresce o temor de ambientalistas caso o Rio Grande do Sul se torne um polo petrolífero.

 Os possíveis efeitos ambientais preocupam especialistas, uma vez que o Rio Grande do Sul já sofre com outros impactos climáticos, como as chuvas mais intensas e as secas mais severas.

Eduardo Secchi, oceanólogo e pró-reitor de pesquisa e pós-graduação da Universidade Federal de Rio Grande (Furg), chama atenção para os impactos da pesquisa sísmica no ecossistema da Bacia de Pelotas. Esta etapa funciona como um exame do subsolo marinho e costuma ser comparada a uma ultrassonografia.  Pesquisa permite mapear potenciais acúmulos de petróleo para identificar locais mais adequados para a perfuração.

“A atividade de prospecção sísmica utiliza canhões que disparam sons de alta intensidade e de baixa frequência, que podem causar danos no aparelho auditivo de cetáceos, como baleias e golfinhos, e interferir na comunicação das grandes baleias. A intensidade dos disparos e a característica das operações também podem alterar o padrão de distribuição de espécies, com efeitos em todo ecossistema”, afirma Secchi.

Conforme estudo do Laboratório de Ecologia e Conservação da Megafauna Marinha, realizado em parceria com outros laboratórios da Furg e instituições parceiras, a Bacia de Pelotas, por ter influência de diferentes massas de água, tem maior riqueza e abundância de cetáceos e aves marinhas do que outras bacias, como a de Santos, peça-chave da exploração nacional de petróleo.

“Encontramos uma elevada diversidade de organismos, desde microorganismos até grandes predadores. Além de espécies que não haviam sido registradas nesta região e possíveis espécies novas, ainda não descritas na literatura. Portanto, qualquer atividade de exploração preocupa, porque pode representar perda de diversidade ou impactos que alteram o funcionamento do ecossistema”, acrescenta Secchi.

No entanto, o pesquisador não é contrário à busca por petróleo na Bacia de Pelotas. Ele  defende “conciliar os interesses econômicos, necessários para o desenvolvimento, com os interesses de conservação”. A posição não é acompanhada pelo presidente da Associação Gaúcha de Proteção Ambiental (Agapan), Heverton Lacerda:

“Preferimos que não exista exploração. Além dos riscos inerentes à atividade, todo o combustível fóssil que é retirado tem finalidade de queima, que gera gases de efeito estufa e amplia a problemática do clima que vivemos hoje. Estamos em um momento de transição energética e devemos prescindir da exploração de petróleo, e o financiamento não deve ocorrer com a abertura de novos poços”, diz Lacerda.

O presidente da Agapan afirma que além dos riscos ambientais, há efeitos econômicos e sociais negativos da potencial exploração de petróleo na Bacia de Pelotas. Para Lacerda, pescadores artesanais devem ser prejudicados por sobreposição com áreas de exploração e comunidades podem ser deslocadas em função da mudança econômica.

“É a preocupação que temos com a chamada justiça climática. O quanto e para quem a exploração de petróleo é importante? Se destruirmos mais o Estado, vamos ter um futuro sem sustentabilidade. Estamos exaurindo o local onde tiramos nossa própria sobrevivência”, pontua Lacerda.

Atualmente, a Agapan trabalha com entidades locais para alertar sobre potenciais riscos de exploração de petróleo na Bacia de Pelotas, por meio da Assembleia Permanente de Entidades Ambientalistas (Apedema). Já a Furg monitora o litoral centro-sul gaúcho, da Lagoa do Peixe até o Chuí, para detectar possíveis alterações no ecossistema marinho.