Áreas de preservação permanente nas cidades servem como reforço contra desastres climáticos

Vegetação nativa preservada nas margens do Rio Taquari poderia ter mitigado efeito da enchente de 2024, explica bióloga

Jornalismo Especializado

Por Rafaela Radaelli

As áreas de preservação permanente (APPs) são fundamentais para o equilíbrio ambiental. Essenciais nos centros urbanos, elas servem tanto como um refúgio da fauna nativa como de preservação da flora.

Em um contexto de mudanças climáticas, as áreas de preservação tornam-se ainda mais importantes dentro das cidades. Elas podem funcionar como corredores ecológicos e até como barreira natural às margens dos rios.

Em eventos extremos como as enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul em 2024, ficou evidente a necessidade de um olhar mais cuidadoso para as áreas de preservação. Um exemplo é o fenômeno ocorrido no Vale do Taquari. Segundo Júlia Siqueira Carniere, bióloga e doutoranda em Ciências Ambientais na Univates (Universidade do Vale do Rio Taquari, vegetação nativa abundante poderia ter reduzido os danos da inundação do ano passado.

Segundo Carniere, o curso do rio Taquari é naturalmente sinuoso. Na enchente de 2024, observou-se que, em muitos trechos, a água deixou de seguir as curvas naturais e passou de forma reta, cortando caminho por cima das margens.

 “Como não havia essa barreira natural de contenção, a água seguiu em linha reta, reduzindo significativamente o percurso original do rio. Embora o curso natural do rio naquela região deva ter cerca de 60 quilômetros, a água percorreu apenas 40 quilômetros, cortando as curvas. Isso mostra como a ausência de vegetação nativa nas APPs altera drasticamente a dinâmica do rio, contribuindo para o agravamento dos desastres naturais”, explica a bióloga.

Entre os desafios da preservação ambiental nas cidades, está o déficit habitacional. Esse tema torna-se crucial quando se trata de APPs, pois a população em vulnerabilidade acaba sendo excluída, e passa a habitar áreas de risco ambiental, como margens de rios e morros, muitas delas categorizadas como áreas de preservação permanente. Segundo a arquiteta Amanda Zerbielli Nicaretta, na maior parte das cidades em desenvolvimento há uma pressão econômica sobre o uso do solo urbano a favor das grandes empresas e especulação imobiliária.

“Para conciliar desenvolvimento urbano com preservação ambiental é necessário o uso de políticas públicas integradas, fiscalização eficaz junto ao planejamento urbano, que incluem habitação e mobilidade urbana para toda população e o cumprimento de leis destinadas às áreas de preservação ambiental, dispostas em Plano Diretor, Zoneamento de Risco, entre outras ações públicas”, explica Nicaretta.