Ativismo ambiental sofre com baixa participação de manifestantes nas ruas

Redes sociais desmobilizam pessoas para protestos presenciais, dizem ativistas

Jornalismo Especializado

Cartaz em tapume na Avenida Borges de Medeiros, em porto Alegre. | Crédito: Isadora Lawall Machado

Por Isadora Lawall Machado

A campanha virtual contra o PL da Devastação, como tem sido chamado o Projeto de Lei 2159/2021, obteve 129.557 assinaturas até a noite da última terça-feira (10). Fora do mundo online, porém, o engajamento é menor. O protesto na Avenida Paulista, em 1º de junho, em São Paulo, juntou cerca de 500 pessoas, de acordo com o site Sumaúma.

Enquanto isso, os números nas redes sociais continuam a crescer. Conteúdos falando sobre o projeto de lei e sobre a importância da atenção às pautas ambientais somam milhares de curtidas. Em contrapartida, os protestos presenciais reuniram poucas pessoas pelo país. Em Curitiba, o público da manifestação foi baixo conforme relata Bernardo Stefanello, estudante de direito na UFPR (Universidade Federal do Paraná).

A ação ocorreu simultaneamente à tradicional Feira do Largo da Ordem, que no centro histórico da capital paranaense. O local reúne comerciantes, turistas e a comunidade local. A intenção era chamar atenção das pessoas que estavam na região para o tema. No entanto, segundo Stefanello, apesar dos cartazes e megafones, poucas pessoas participaram ativamente da manifestação.

“Eu esperava uma concentração de público maior em Curitiba. Poucas pessoas aderiram e isso me preocupa bastante porque deixa transparecer que o movimento ambientalista não tem tanta força”, relata o estudante.

Francisco Figueiredo, divulgador científico, educador ambiental e criador de conteúdo, acredita que essa baixa no ativismo ambiental nas ruas está ligada com o meio digital. Em 15 de maio, Figueiredo postou um vídeo divulgando a ação #Amazôniasempetróleo, organizada pela ONG de resistência ambiental “Nossas”. O vídeo atingiu 843 mil visualizações e mais de 85 mil curtidas. No entanto, a campanha possui apenas 15 mil assinaturas. O criador de conteúdo relatou que esse foi um dos vídeos do seu perfil com o maior engajamento e interação dos últimos tempos. Entretanto, a ação prática em relação a exploração de petróleo na Amazônia não tem ocorrido.

“A rede social facilita o debate, mas gera problemas. A consequência prática é mínima, a manifestação atinge todo mundo”, afirma. Para o ativista a rede social desmobiliza as pessoas de irem para as ruas porque ali elas já encontraram um lugar para expressar a sua opinião de forma mais fácil, com poucos cliques e muita interação.

Além disso, uma das dificuldades enfrentadas pelo ativismo ambiental é mostrar a necessidade e os efeitos das ações. “A mudança é muito gradual, não é uma ação concreta Não é fazer algo, é deixar de fazer”, acrescenta Figueiredo. Por exemplo, andar de transporte público é mais sustentável do que andar de carro. No entanto, usar o transporte público é mais demorado e menos seguro. “O dano individual é maior que o benefício coletivo”, comenta. Como a mudança não é perceptível, tem pouca adesão da população. Para ele, então, é papel do estado desenvolver políticas que favoreçam as escolhas de preservação ambiental. “É necessário tornar as soluções sustentáveis mais fáceis e tornar as não sustentáveis mais difíceis”, afirma.