Bairros atingidos pela enchente de maio dão vantagem ainda maior a Melo  

Nos bairros mais afetados, o candidato que concorre à reeleição superou a marca de 50% dos votos, o que garantiria a vitória no primeiro turno.

Gabrielly Camargo

Por: Gabrielly Camargo e Gustavo Fontella

Foto: Sofia Villela

Cinco meses após a histórica enchente de maio, que impactou 478 dos 497 municípios do Rio Grande do Sul, incluindo a capital do Estado, os eleitores compareceram às urnas para eleger o prefeito de Porto Alegre pelos próximos quatro anos. A tragédia marcou principalmente a vida dos moradores da zona norte de Porto Alegre, em bairros como Farrapos, Humaitá e Sarandi. E foi nestes locais que o atual prefeito e candidato à reeleição Sebastião Melo (MDB) obteve a vitória com maior margem de diferença. A oposição acreditava que, por ser uma das zonas mais afetadas, haveria um descontentamento que impactaria o resultado das urnas.  

Porém, os dados mostram que não foi exatamente isso que aconteceu. Na zona eleitoral 111, que abrange Farrapos e Humaitá, 35.932 eleitores escolheram Melo, totalizando 51,45% dos votos válidos. Contando todas as seções, o atual prefeito liderou o 1° turno com 345.420 votos (49,72%) e Maria do Rosário (PT), que também disputa o segundo turno, fez 182.553 (26,28%).   

O cientista político e professor da PUCRS Augusto de Oliveira chama atenção para o fenômeno ocorrido na região das ilhas, 1ª zona eleitoral, que abrange o bairro Arquipélago, uma das áreas mais carentes e destruídas pela enchente de maio. Neste bairro, as candidatas de oposição Maria do Rosário e Juliana Brizola (PDT) obtiveram, somadas, um número maior de votos (36.734) que Sebastião Melo (27.749).  Este fenômeno também pode ser observado na 2ª zona eleitoral, onde as candidatas obtiveram somadas 39.338 votos contra 38.194 do candidato. O mesmo ocorreu na 113ª zona eleitoral, onde Maria e Juliana fizeram juntas 34.074 contra 32.007 de Melo.  

“Se fosse repetido este cenário no restante da cidade, a oposição (Maria do Rosário) teria grandes chances de vitória no segundo turno, o que não é o caso pois as outras regiões votaram desproporcionalmente mais no Melo”, afirma Augusto. Essa disparidade sugere que, apesar da tragédia, muitos eleitores não associaram a atual administração municipal à crise enfrentada, ou que priorizaram outras questões em sua decisão.  

O resultado das urnas na região das ilhas sugere um reflexo direto do descontentamento com a administração de Melo, especialmente em um contexto em que as promessas de recuperação e ajuda humanitária se tornaram fundamentais. Além disso, o desempenho da oposição em áreas como a região das ilhas pode ser um sinal de que, com uma abordagem correta, há espaço para um novo diálogo político que leve em conta as demandas dos eleitores mais vulneráveis.