Da matéria-prima ao descarte, indústria da moda gera impacto ambiental

“Não são somente as marcas que devem mudar. As pessoas muitas vezes consomem demais”, diz pesquisadora

Jornalismo Especializado

Indústria da moda gerou cerca de 2,1 bilhões de toneladas de emissões de gases do efeito estufa em 2018 |Crédito: Tânia Rêgo, Agência Brasil

Por Érica Wallauer Alves

Em apenas um ano, a indústria da moda gerou cerca de 2,1 bilhões de toneladas de emissões de gases do efeito estufa. O número equivale a 4% das emissões globais totais. Os dados são da pesquisa Fashion on Climate, publicada pela empresa McKinsey & Company, em 2018.

“Os impactos ambientais da indústria da moda afetam questões como o lugar onde as roupas são descartadas, os materiais usados e o quanto a indústria da moda já foi poluente”, explica Paula Regina Puhl, professora e pesquisadora da Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos), da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

Puhl observa que, levando em consideração este cenário, muitas medidas já estão sendo revistas, bem como ações realizadas por diferentes marcas da indústria da moda.

A professora reflete sobre o ciclo da produção das peças, considerando a sustentabilidade do processo. Desde a origem da matéria-prima até o descarte, o meio ambiente precisa fazer parte da equação. Para reduzir o dano ambiental, uma das ações possíveis é reduzir desperdícios e usar materiais de menor impacto. Além disso, é indispensável que todos os processos de fabricação sejam fiscalizados.

“Muitas empresas de moda investem em processos de reciclagem de materiais. É preciso que haja uma maior conscientização para alertar as pessoas sobre o impacto da moda. Não são somente as marcas que devem mudar. As pessoas muitas vezes consomem demais”, diz Puhl.

Como alternativa, Puhl ressalta as possibilidades de compras em brechós. O chamado “second hand” (segunda mão, em tradução livre) está cada vez mais presentes no dia a dia das pessoas. A compra em brechós é uma forma de consumir dentro do “slow fashion”, tendência que se opõe ao “fast fashion” de consumo rápido.

De acordo com Puhl, os conceitos de “slow” e “fast fashion” convivem. “O ‘slow fashion’ não significa produzir só de uma forma mais lenta e em menor quantidade. Mas, sim, de produzir produtos que têm mais qualidade, que possuem mais valor agregado, de maior duração, preocupados com a qualidade dos materiais”, diz a pesquisadora.

Por outro lado, o “fast fashion” promove um consumo desenfreado. São as roupas que encontramos em diversas lojas de varejo, lugar onde o apelo para a compra é sempre reforçado.

Conforme Lisete Ghiggi, bióloga e especialista em Biologia Marinha, produtos químicos como corantes usados em roupas contribuem para a poluição da água. A indústria têxtil polui atmosfera, emite gases de efeito estufa e ainda polui o solo com o descarte inadequado.