E os últimos três? 

Assim como aqueles que alcançaram o pódio, as histórias dos últimos colocados também são exemplos de superação.

Andrei dos Santos Rossetto

Reportagem de Júlia Pletsch

Enquanto aqueles que alcançam os primeiros lugares têm suas histórias iluminadas pelos holofotes e inspiram multidões, os demais atletas, muitas vezes, permanecem nas sombras, com jornadas silenciosas e desconhecidas. 

No último POA Day Run, no domingo (25), mais de 5 mil pessoas correram três percursos: 3, 5 e 10 quilômetros, pela cidade de Porto Alegre. Os três primeiros colocados de cada categoria receberam medalhas e posaram para fotos no pódio. E os três últimos? 

Suzia Fatima de Castro Severo cruza a linha de chegada junto a seu filho / Fernanda da Veiga / Lab J 

Aos 62 anos, Suzia Fatima de Castro Severo provou que é possível se desafiar e cruzar a linha de chegada. A corredora começou a praticar o esporte há 8 meses e, a partir de então, passou a participar de várias corridas, alcançando o pódio em sua categoria nas competições de menor distância. No evento deste domingo, ela mostrou determinação ao cruzar a linha de chegada com seu filho, que, após concluir o seu trajeto, decidiu dar meia volta para buscá-la e motivá-la ainda mais a concluir a prova. Essa cena simboliza não apenas a força de Suzia, mas também o poder do apoio familiar e da superação pessoal. “Realmente não me importou ter chegado em último lugar, porque consegui concluir assim mesmo. E meu filho tendo ido me buscar foi emocionante”, disse a corredora.  

Aos 62 anos, Suzia prova que superação não tem idade: Nunca Pensei em Desistir

Suzia nunca pensou em desistir, concluir a prova era a sua meta desde o início. Mesmo com 62 anos e uma entorse no tornozelo durante o percurso, ela cruzou a linha de chegada. A ideia é não participar apenas dessa corrida, mas também de outras neste inverno. “Serão desafiadoras, porque tenho alergia e o clima não vai me ajudar muito”, diz ela. Essa história mostra que, mesmo com dificuldades, é possível continuar se desafiando.  

Sorrindo de alegria, Thabata Fernandes cruza a linha de chegada / Fernanda da Veiga/Lab J 

Thabata Fernandes Fischer tem 30 anos, trabalha como farmacêutica e afirma que correr sempre foi um grande desafio em sua vida. Desde 2017, ela se dedica à atividade física, frequenta a academia regularmente e mantém uma alimentação saudável. Thabata afirma que correr foi um grande desafio em sua vida. Ela começou a praticar esportes porque queria ser militar das Forças Armadas. Participou de sua primeira corrida no ano passado, em março, percorrendo 3km. Depois, decidiu se superar e aumentar a distância para 5 km. A corredora se propôs a correr 10 km até o final de 2024 e cumpriu sua meta. “Eu não caminhei em nenhum momento, então pra mim isso foi muito gratificante, porque era o que eu me propus a fazer, correr os 10km independente da velocidade, mas fazer o percurso inteiro correndo, eu consegui. Então eu fiquei muito feliz”, revelou. 

Para mim foi uma vitória, diz Thabata Fernandes Fischer

“Para mim foi uma vitória, por mais que eu tenha sido uma das última colocada fiz a prova muito feliz, muito grata por Deus, por estar lá, e por não ter tido nenhuma lesão até o momento, não ter acontecido nada que me impossibilitou de ter feito a prova”, contou.  

Em nenhum momento ela pensou em desistir: “Às vezes que eu cogitei em pensar no cansaço vinha alguém e falava: ‘vamos lá, tu vai conseguir, parabéns’”. Essas palavras foram um combustível de motivação e incentivo durante toda a corrida. Além disso, ela compartilha que pensou em fazer uma breve parada ou caminhada nos pontos de hidratação que havia durante o percurso, mas nem nessa hora deixou o corpo falar mais alto que a mente, “fiz o trajeto inteiro correndo”, completa a corredora.  

Essa corrida foi muito importante para Thabata, pois ela concluiu seu objetivo e fez isso sem se autossabotar. “A mensagem que eu gostaria de deixar é que nós temos potencial”, afirma ela, que acredita que a evolução na corrida é um processo longo e que acontece com o tempo. O importante é começar. “Então, quem tem vontade de correr, eu digo: comece, só comece, a atividade física é saúde e nós temos que fortalecer o nosso corpo para termos mais anos de vida”. Além disso, Thabata participará da meia maratona de Porto Alegre, que acontecerá em junho deste ano. 

Vanessa Cassal durante a corrida / José Carlos de Souza Daves / Foco Radical 

O amor de Vanessa Cassal pela corrida começou quando uma amiga mostrou as mudanças positivas que o esporte estava trazendo para a vida dela. Ela mostrou a Vanessa as oportunidades que a corrida proporciona, “tanto conseguindo alcançar distâncias quanto perdendo peso”, afirma. Então, em 2019, Vanessa ingressou no grupo de corrida da amiga, do qual faz parte até hoje. Ela acredita que o apoio do grupo é essencial: “quem me apoia e inspira é o pessoal do meu grupo de corridas onde cada um tem seus desafios. São pessoas guerreiras e inspiradoras que treinam, torcem e vibram pelas conquistas umas das outras independente de marcas e/ou distâncias”. 

Ao contrário das outras corredoras citadas aqui, Vanessa pensou em abandonar a corrida: “Durante o percurso por muitos momentos pensei em desistir, pois os pensamentos limitantes aparecem a todo momento e vencê-los também faz parte do processo. O que me fez continuar foi pensar que meu marido e o pessoal da VS Canoas estavam me aguardando na linha de chegada”. Esse pensamento a manteve focada, mostrando a importância do apoio família e de sua equipe. O principal objetivo de Vanessa era concluir o percurso, independente do tempo necessário: “Mesmo não tendo uma vida de atleta, posso treinar, me superar e buscar minha melhor versão a cada passo”, disse a corredora. 

A corrida para mim nunca esteve relacionada à busca de pódios, diz Vanessa Cassal 

Vanessa traz uma reflexão: o maior obstáculo é dominar a mente. “Por mais que meu corpo esteja sem dores e o treino esteja fluindo bem, a mente começa a sabotar, trazendo cansaço, dúvidas e a vontade de desistir”, diz ela. Mesmo sem ter subido ao pódio, teve a felicidade de provar para si mesma que o essencial é acreditar e continuar. “A corrida para mim nunca esteve relacionada à busca de pódios, nem à comparação com outras pessoas, mas sim à busca de saúde e superação pessoal”, contou. “Eu já estive em melhores condições físicas e treinando mais disciplinadamente, mas naquela época fiz provas de até 5km. Neste ano resolvi me desafiar em distâncias maiores e cada treino tem sido de muita superação. Nesta prova mesmo estando entre as últimas a chegar me sinto vitoriosa por conseguir concluir este desafio”, completou. 

Ela compartilha uma mensagem do seu treinador, Vinícius Siqueira: “quando a gente se sente inferior, em menor condição física e até mesmo chegando nos últimos lugares, devemos pensar que estamos na frente de nós mesmos do passado. A comparação com os outros, sejam mais lentos ou mais rápidos, por mais que seja algo comum não deve te impedir de evoluir como ser humano e evoluir tecnicamente ou que seja algo que impeça de melhorar sua saúde. A melhor comparação sempre será consigo mesmo”. 

Após relatos de histórias intensas vividas nas pistas, é difícil ignorar o poder transformador da corrida. Mais do que velocidade ou resistência, esse esporte é superação. Aqueles que um dia ergueram um troféu sabem que o tempo pode mudar posições, mas jamais apaga conquistas. É o caso de Suzia, cuja jornada prova que a verdadeira vitória transcende o pódio. As motivações são tão diversas quanto os próprios corredores: seja o sonho de ingressar nas Forças Armadas, receber um convite de uma amiga para tentar algo novo, entre outas. No último domingo, mais de cinco mil corredores cruzaram a linha de chegada, cada um com sua própria batalha e vitória. E é por isso que, o que realmente importa não é o brilho do troféu ou o peso da medalha, mas a história que cada um carrega no peito.