Entenda como funcionam as pesquisas eleitorais e as suas metodologias

Luciana Weber

Escrito por: Luciana Weber e Maria Heloisa Pinzetta

Reprodução/ Luciana Weber

As pesquisas eleitorais têm desempenhado um papel crucial na compreensão da dinâmica dos pleitos, fornecendo uma visão sobre a intenção de voto dos eleitores em diferentes momentos do processo eleitoral. Essas pesquisas não só apontam as preferências por candidatos, mas também exploram a opinião pública sobre temas relevantes, como a avaliação do governo e a rejeição aos candidatos.  

Em Porto Alegre, a primeira pesquisa foi divulgada pelo instituto Quaest, nesta última terça-feira (27). Neste ano, as eleições são municipais. As amostras utilizadas nas pesquisas são selecionadas para representar, de forma estatística, a população como um todo. Por exemplo, a pesquisa da Quaest foi realizada com 900 pessoas. Mesmo com um número de entrevistados pequeno em comparação ao número total de eleitores, a escolha da amostra segue critérios para garantir as características demográficas do eleitorado, como gênero, idade, escolaridade, religião e renda, de acordo com a metodologia desenvolvida pelo Instituto. 

Segundo cientista político e professor da Escola de Humanidades Augusto Neftali “a pesquisa eleitoral primeiro divide a população do município em subgrupos relevantes para a decisão do voto e depois tenta, a partir da projeção do intervalo de confiança,  fazer perguntas para um conjunto de eleitores que seja representativo desses diferentes grupos de indivíduos”. O número de entrevistados pode variar dependendo dos recursos disponíveis e do nível de precisão desejado. 

O professor ressalta que: “os resultados das pesquisas eleitorais são importantes para os candidatos, pois permitem avaliar se suas campanhas estão tendo sucesso”. Além disso, ele afirma que esses números “também são fundamentais para os eleitores, que podem fazer escolhas racionais a respeito de quem eles preferem eleger”.

As pesquisas podem ser conduzidas de diferentes maneiras. Tradicionalmente, elas são feitas presencialmente, onde o entrevistador vai até a residência do eleitor para aplicar o questionário. Essa abordagem permite uma interação mais direta e pode facilitar a coleta de dados mais precisos. Porém, pesquisas online ou por telefone estão se tornando cada vez mais comuns.  Um conceito fundamental em uma pesquisa é a margem de erro, que representa a variação possível nos resultados devido à amostragem. A margem de erro indica a probabilidade do resultado da amostra ser próximo de 1, se toda a população for pesquisada. Geralmente, a probabilidade usada para o resultado da amostra estar dentro da margem de erro é de 95%, embora às vezes sejam usados outros valores.

O que é margem de erro? 

A margem de erro é uma medida que indica a precisão de uma pesquisa feita por amostragem, mostrando o quanto os resultados da amostra podem variar em relação ao que seria obtido se toda a população fosse pesquisada. Ela é calculada com base no tamanho da amostra e no nível de confiança, e reflete a incerteza inerente à pesquisa, ajudando a entender quão próximos os resultados estão dos valores reais da população. Augusto ressalta que:o tamanho da amostra é definido pela eficiência,  porque custa fazer a entrevista, tu tem que mobilizar o entrevistador tem que conseguir completar os diferentes grupos sociais”.

No caso da pesquisa Quaest em Porto Alegre, a margem de erro foi de 3 pontos percentuais  para mais ou para menos com 95% de confiança, ou seja, existe 5% de chances da margem de erro ser maior ou menor que 3%, Augusto explica: “Se a pesquisa eleitoral é feita 100 vezes, em 95 vezes ela vai dar o mesmo resultado, mas em 5 vezes ela pode dar um resultado diferente.”  A margem de erro é assegurada pela confiabilidade da pesquisa.  Existe uma correlação entre o tamanho da amostra e a margem de erro: quanto maior o número de entrevistados, menor tende a ser a margem de erro. Porém, mesmo com um aumento no número de entrevistados, o erro amostral nunca é totalmente eliminado. Desde 2011, uma resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) obriga os institutos de pesquisas a informar a margem de erro antes de realizarem as entrevistas.

Tipos de Amostragem:

A amostra é um grupo de elementos ou sujeitos selecionados de uma população maior. A seleção é feita em quantidade significativamente inferior à da população total, mas, quando a amostra é representativa, os dados obtidos por meio dela podem ser generalizados para a população de origem. A amostragem é a técnica estatística recomendada para pesquisas onde seria inviável estudar todos os sujeitos da população. Em geral, quanto maior a amostra, menor tende a ser a margem de erro da pesquisa, o que aumenta a precisão dos resultados.

  • Amostragem Aleatória Simples:

Neste método, a escolha de um elemento da população não afeta a probabilidade de seleção dos outros membros. Cada integrante da população tem a mesma probabilidade de ser escolhido, o que torna essa técnica uma das mais simples e amplamente utilizadas para garantir a aleatoriedade e a imparcialidade na seleção dos participantes.

  • Amostragem Probabilística/Acidental: 

Aqui, os elementos da população têm uma probabilidade conhecida e diferente de zero de fazer parte da amostra. Este tipo de amostragem é baseado em leis probabilísticas, garantindo que cada elemento tenha uma chance real de ser incluído na amostra, embora essas chances possam variar.

  • Amostragem Proporcional ao Tamanho:

Este método envolve a seleção probabilística em que as chances de escolha das unidades amostrais (como cidades ou regiões) são proporcionais ao tamanho delas. Em pesquisas eleitorais, essa técnica é comumente utilizada, especialmente em levantamentos que abrangem múltiplos municípios. 

A influência do voto útil

O voto útil ocorre quando um eleitor decide votar em um candidato que não é sua primeira escolha, com o objetivo de evitar que um adversário, considerado por ele como pior, seja eleito. Essa prática é particularmente comum em eleições majoritárias e em disputas muito polarizadas, onde o eleitorado prefere concentrar seus votos em candidatos com maiores chances de vitória. 

No contexto das eleições de Porto Alegre, o “voto útil” pode se manifestar de forma significativa, especialmente na reta final da campanha, conforme eleitores analisam as chances dos candidatos de chegarem ao segundo turno. É uma estratégia que tem grande impacto na decisão eleitoral, pois pode alterar drasticamente as chances de determinados candidatos e, consequentemente, o resultado final das eleições.

Para chegar nesses resultados, duas pesquisas foram feitas: a espontânea e a estimulada. No primeiro formato, uma pergunta é feita ao entrevistado sem alternativas prévias. Além de coletar respostas, esse tipo de pesquisa consegue medir o engajamento, a lembrança e o interesse dos participantes quando se trata de eleições. Os resultados geralmente refletem a popularidade e o reconhecimento espontâneo dos candidatos.

 Já na pesquisa estimulada, uma lista é apresentada com as opções de candidatos para que as pessoas escolham. Neste formato, pode-se medir a preferência dos eleitores quando todas as opções são claramente apresentadas. Os resultados tendem a ser mais completos, pois incluem candidatos que talvez não seriam lembrados espontaneamente.

A pesquisa realizada pelo Instituto Quaest foi registrada no TSE sob protocolo RS-09561/2024. Os resultados da pesquisa você confere no instagram do Lab J.