Jornalistas do Diário Popular foram  surpreendidos com o fechamento repentino

Após 133 anos, o mais antigo jornal em atividade no Rio Grande do Sul fecha as portas

Luciana Weber

Produção: Gabrielly Camargo, Luciana Weber e Thierry de Deus

O Diário Popular, um dos jornais mais antigos do sul do país, fechou as portas e o anúncio pegou os funcionários de surpresa. Depois de 133 anos, no dia 11 de junho, o jornal anunciou autofalência para, então, no dia seguinte, publicar a última edição com uma capa totalmente preta e os dizeres “1890-2024”, tal qual uma lápide. O jornal contava com 58 funcionários, 18 deles apenas na redação.

 

Fundado em 27 de agosto de 1890, dois anos após a abolição da escravatura, na cidade de Pelotas, na zona sul do estado, o Diário Popular se distinguia da imprensa da época em função das chamadas e matérias ousadas. O acervo físico, com todas as edições, vai ser mantido pela biblioteca pública de Pelotas. Além disso, há um esforço em conjunto com a Universidade Federal de Pelotas para digitalizar todo o material. 

Segundo Lucas Kurz, editor e coordenador de redação, as dificuldades financeiras para a manutenção do negócio não eram segredo: “a própria direção falava publicamente sobre, então havia um temor de potencial redução da operação, demissões, etc, mas não esperávamos um encerramento abrupto das atividades”. Ainda de acordo com o editor, ele e o colega Henrique Risse, outro editor do jornal, receberam a notícia na manhã de terça-feira, dia 11 de junho. Os outros funcionários foram avisados no início da tarde. “O clima na redação era de velório”, revela o agora ex-coordenador de redação do Diário Popular.

  Victória Fonseca, outra jornalista do Diário Popular, postou numa rede social que uma “reunião estranha“ havia sido convocada e funcionários de outros setores também participaram. Na postagem, ela desabafou: “de repente, tu e cerca de 50 pessoas são comunicadas por advogados e pela diretora do jornal que a partir daquela terça-feira não há mais jornal”, relata a jornalista. Além de Victória, outros jornalistas se pronunciaram nas redes sociais sobre o encerramento do jornal.

A diretora-superintendente do jornal, Virgínia Fetter, afirmou que questões envolvendo serviços terceirizados e os prejuízos causados pela tragédia climática no Rio Grande do Sul também contribuíram para o fim do veículo: “apesar de nossos esforços incansáveis, a realidade financeira se tornou insustentável. Desde 2019, para compensar a queda drástica das receitas, decidimos complementar as despesas com nossos recursos particulares”, afirmou a diretora. Sobre a demissão repentina dos funcionários, Virgínia afirma que todas as pessoas foram indenizadas. Porém, mesmo com a crise na redação, o jornal ainda anunciava vagas de emprego no Linkedin dois meses atrás. Ao todo, eram quatro oportunidades, todas para o setor de informática. Segundo Virgínia, o diretor executivo não sabia do fechamento do jornal e publicou as vagas. A diretora continua falando que largou a profissão de arquiteta, há 28 anos, para “se dedicar à sobrevivência do Diário Popular” e se orgulha de ter feito parte da vida de muitas pessoas por tanto tempo.

Para o jornalista, professor e pesquisador Antônio Hohlfeldt, o encerramento do Diário Popular é uma grande perda para o jornalismo brasileiro e irá deixar uma lacuna na comunicação. De acordo com o professor, não é só o fechamento de um jornal, a região sul do estado perde um grande referencial com mais de 100 anos de credibilidade.