Livros na Feira do Livro de Porto Alegre são, em média, 10% mais baratos do que na Amazon

O Lab J visitou a Feira do Livro de Porto Alegre para comparar os preços e a disponibilidade dos livros mais vendidos do Brasil entre livrarias físicas e o comércio digital.

Lucas Polidori Azeredo

(Reprodução/Lucas Azeredo)

A 70ª edição da Feira do Livro abriu suas portas na última sexta-feira. Com 72 bancas, sendo 10 de literatura infantojuvenil, a organização espera que 1,5 milhão de pessoas visitem nos vinte dias de feira. Os mais de mil eventos fazem dela o maior evento literário a céu aberto da América Latina. Porém, as livrarias sofrem a constante ameaça da perda de clientes para o comércio digital.

Uma pesquisa encomendada pela Câmara Brasileira do Livro em 2023, junto à consultora Nielsen BookData, montou um perfil dos compradores brasileiros de livros. Segundo o levantamento, o mercado editorial conta com 25 milhões de consumidores. Desses, 55% dizem fazer suas compras online citando “comodidade”,  “disponibilidade dos livros desejados” e “maior percepção de ofertas” entre os principais motivos. 

Já que a Feira do Livro só existe presencialmente, seus dois maiores desafios para enfrentar o comércio online são os preços e ter os livros mais procurados em estoque. Para isso, o Lab J visitou a feira na sua abertura para checar como os livreiros estão competindo com suas contrapartes digitais.

Usando como referência a lista semanal produzida pela revista Veja, que coleta informações de diversas livrarias e sites do Brasil inteiro, os três livros mais vendidos, até o dia 1/11, nas categorias Ficção, Não-Ficção, Autoajuda e Esoterismo e Infantojuvenil eram:

Ficção

  • “É Assim que Acaba”, Colleen Hoover
  • “É Assim que Começa”, Colleen Hoover
  • “A Vegetariana”, Han Kang

Não-Ficção

  • “O Pobre de Direita”, Jessé Souza
  • “Nexus”, Yuval Noah Harari
  • “Ainda Estou Aqui”, Marcelo Rubens Paiva

Autoajuda e Esoterismo

  • “Café com Deus Pai 2025”, Júnior Rostirola
  • “Hábitos Atômicos”, James Clear
  • “As 48 Leis de Poder”, Robert Greene

Infantojuvenil

  • “Assistente de Vilão”, Hannah Nicole Maehrer
  • “Maxton Hall: Salve-me”, Mona Kasten
  • “O Pequeno Príncipe”, Antoine de Saint-Exupéry

Explorando as bancas da feira, todos os livros foram encontrados. Em média, os preços, comparados com os da Amazon, principal meio digital de compra usado por brasileiros segundo a pesquisa da Câmara Brasileira do Livro, é 10% menor com os vendedores que participam do evento. O custo médio de cada obra no site de Jeff Bezos é de R$ 67,00. Com os livreiros? 60 reais cada. Esse número é resultado de uma simples soma dos valores de cada livro divididos por 12, o total de itens analizados.

(Reprodução/Pedro Pereira)

Jussara é uma das livreiras mais longínquas da Feira do Livro da capital gaúcha. Dona da livraria Nunes Martins, está chegando na sua 50ª participação no evento. Entre os grandes desafios que ela e os colegas enfrentam, está a transformação do mercado de varejo em prol do comércio digital, ou e-commerce. No universo dos livros, não foi diferente. Porém, Jussara vê essa situação com outros olhos.

“Nem olho os preços deles. Não vejo a Amazon como concorrência”, explica. Para ela, a Nunes Martins e a empresa norte-americana não disputam espaço pois são de segmentos diferentes. Inclusive, Jussara diz recomendar aos clientes as ofertas da Amazon para as obras que ela não tem em estoque. “Tem Amazon Prime? Então aproveita o desconto e compra”, diz. Ainda sim, Jussara diz que, ano a ano, a procura por livros físicos vem aumentando.

Ângela, que trabalha na Nunes Martins, explica a preferência: “O pessoal vem e gosta de tocar, de ver. Hoje eu vi uma menina pequena pegando um livro e levando ao coração. Ela se apaixonou ”. Um dos motes da Feira do Livro deste ano é a retomada do setor livreiro em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul. Mais de 24 empresas do setor livreiro tiveram perda de estoques ou danos materiais durante a crise climática de maio. Ângela diz que a feira “nem era para estar acontecendo. Está acontecendo porque o pessoal é muito solidário e quer ajudar”.

(Reprodução/Lucas Azeredo)

Johnny Pedra é escritor e livreiro pela Editora Cassol, fundada há mais de vinte anos pela autora de livros infantis Léia Cassol e seu companheiro, Gilmar Cassol. Participa da sua 16ª edição e vende quatro livros escritos por ele, destinados ao público infantil. Johnny diz que vê um aumento, em especial, no número de crianças visitando os estandes. O que mais chama a atenção dos pequenos, segundo ele, são os livros coloridos e, entre os mais velhos, os mangás. “Quem vem, vem procurando a coisa do livro físico mesmo. Interessados em conhecer o que a gente tem para oferecer aqui. E sempre aumentando, o que é muito legal”, diz, sobre o perfil de quem compra na banca. A Feira do Livro ficará na Praça da Alfândega, no Centro Histórico, do dia 1º ao dia 20º de novembro, aberta das 10h às 20h com atividades todos os dias.