Mulheres movimentam cena do skate no Brasil 

Victoria Barelli, skatista porto-alegrense, fala sobre a evolução do esporte nos últimos anos entre o público feminino

Andrei dos Santos Rossetto

Reportagem de Ana Maia 

Foto / Clara Strack

Após o fenômeno Rayssa Leal, skatista e medalhista nas Olimpíadas de Tóquio e Paris, há um aumento no interesse de mulheres e crianças no esporte. Uma pesquisa da Confederação Brasileira de Skate (CBSK) indicava que o número de mulheres praticantes do esporte no Brasil chegava a 1,6 milhão. Os dados, porém, são de 2015. Quase dez anos depois, o aumento de mulheres skatistas nas ruas e parques é visível. 

Uma destas praticantes é Victoria Barelli, porto-alegrense de 23 anos, que há cinco anos anda pelas pistas da capital gaúcha. Ela é adepta da modalidade que é considerada a mais radical do skate: o park. Quando recebeu a reportagem, ela deslizava sobre o skate na pista do IAPI.  

Vic, como é chamada, começou em 2019. A cena feminina do skate era praticamente inexistente em Porto Alegre. Esse cenário só mudou após as Olimpíadas de 2021, quando rolou o “boom” do skate, impulsionado pelo ótimo desempenho dos atletas brasileiros na competição, em especial de Rayssa Leal.  

“Começou a ir uma galera [na pista]. Final de semana tu tinha que ir entre às 11h e 14h porque mais tarde era impraticável, era muita criança. Antes, não tinha incentivo, não tinha para quem olhar e graças às Olimpíadas, que teve a Rayssa Leal, muita gente começou a ver como esporte. Até os pais começaram a achar legal e incentivar”, diz Vic. 

Os laços que o skate consegue criar vão além da prática do esporte. É possível criar conexões para a vida, explica a skatista. “Eu me formei na escola em 2020, foi na pandemia. Eu estava perdida, mantive três amigas de encontrar. Então, praticar skate foi muito legal para conhecer pessoas novas. Hoje tenho melhores amigos que são do skate”, conta Vic. 

Ela relata nunca ter sofrido preconceito ou algum tipo de discriminação entre os homens por ser mulher e estar na pista de skate. “Eu nunca tive medo de andar. Não era uma mina que ia uma vez e depois nunca mais. Então, criou-se um respeito por mim”, conta. 

Vic não sente que a cena do skate feminino de Porto Alegre é tão unida como em outros lugares do país, que tem coletivos próprios apenas de mulheres. “Eu acho que poderia ser bem mais forte. Se tu já aprendeu, por que você não vai ajudar? Às vezes eu estou na pista e vejo que tem uma guria que quer andar, mas está com medo. Sempre ofereço uma mão. Vejo que as meninas não se colocam à disposição, isso percebo que os caras são mais abertos para se apoiar e se ajudar”, opina. 

Nas competições na capital gaúcha, atualmente faltam competidoras mulheres para participar dos eventos. A ausência é resultado da baixa ou nula divulgação específica para o público feminino. “Às vezes acontece a competição, mas com apenas duas gurias para competir. Teve uma vez lá, no Complex Skate Park, que eram apenas duas gurias. Não dava nem um pódio”, conta. 

A skatista vê que falta engajamento das gurias para fazer a competição feminina acontecer da mesma forma como acontecem as categorias masculinas hoje na cidade. “Tem muitas que pedem e, chega na hora, elas não vão atrás. Os caras fazem o corre para ir atrás de patrocínio, para reivindicar”, compara.  

Vic cita como inspiração o coletivo “Minas Skate Crew”, de Santa Catarina. O coletivo de Itajaí, que começou com quatro mulheres, hoje soma mais de 10 mil seguidores no Instagram, loja com venda dos produtos confeccionados por elas e diversos eventos com foco no skate feminino.  

O que falta para a cena feminina crescer em Porto Alegre na visão da Vic é apenas ter alguém que queira começar de forma organizada. “Falta apenas alguém assumir essa liderança, chegar e criar um grupo com a galera que quer aprender, não que tenha um líder de fato, mas que tenha uma galera engajada. Eu acho que falta só começar”, incentiva. 

O coletivo de skate feminino de Piracicaba, o Sesh Girls Skate Crew, surgiu justamente desse impulso. Segundo Luíza Vila Nova, conhecida como Pix, a criação foi uma tentativa de conseguir fazer algo específico para as gurias, marcar encontros, se apoiar e deixar a vergonha de lado. 

 “Principalmente por causa da vergonha. Porque, por ser predominantemente masculino, tem muito disso de alguns caras achar ‘elas estão andando só para agradar, para se mostrar’. Acho que toda menina tem um receio. ‘Vou começar a andar e os caras vão me zoar, achar que eu estou querendo me mostrar pra eles ou que vai dar uma semana e eu vou parar’. A gente está tentando mudar isso, né? Quando comecei eu andava mais sozinha ou com os meninos, mas quando começou nosso coletivo eu me senti muito mais à vontade andando com as meninas”, conta Pix, uma das primeiras integrantes do coletivo. 

As meninas do Sesh – 17 no total – tiveram dificuldades ao comandar o seu primeiro evento, em outubro desse ano, como diz Larissa Cassiano, uma das integrantes. “Como a gente é um grupo novo a gente não tem patrocínio de lojas de skate, nem de roupa. Então ficou muito difícil de arranjar prêmios como shape, truck, roda, coisas que são muito caras. Seria muito difícil a gente bancar sozinhas. Então, a gente correu atrás de pedir patrocínio com tatuadores, body piercers, lojas”, explica. 

Reportagem produzida para a disciplina de Reportagem e Entrevista, sob supervisão da professora Paula Sperb.