O desafio de manter em boas condições os banheiros públicos do Centro Histórico

O desafio de manter em boas condições os banheiros públicos do Centro Histórico Reportagem do Lab J percorreu sanitários em quatro pontos de grande circulação da região e constatou boas condições de limpeza, mas falta de manutenção de equipamentos

Eduarda Wisniewski

TEXTO: Felipe Silva Teixeira e Theo Giacobbe – Originalmente postado em 20/07/2023 (Medium Lab J).

As placas de sinalização são fundamentais para orientar o público que frequenta a Rodoviária de Porto Alegre / Fotografia: Theo Giacobbe

Os banheiros públicos são uma infraestrutura essencial em qualquer área urbana, garantindo acesso básico a instalações sanitárias adequadas. No Centro de Porto Alegre, esses banheiros desempenham um papel crucial na promoção da saúde pública, inclusão social e no conforto dos moradores e visitantes. Por conta de ser uma região extremamente movimentada durante os dias de semana, é fundamental que os banheiros públicos estejam em plena condição para atender às necessidades do público.

Com o objetivo de verificar a condição dos sanitários do Centro Histórico de Porto Alegre, a equipe de reportagem do Lab J, da Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos), foi a campo e visitou os quatro principais locais que disponibilizam banheiros públicos na região: Rodoviária, Mercado Público, Orla do Guaíba, e Casa de Cultura Mario Quintana. Os banheiros da Avenida Borges de Medeiros e do Terminal Parobé não puderam ser analisados pois passam por reformas desde o ano passado.

Rodoviária

O principal terminal de ônibus de Porto Alegre tem três conjuntos de banheiros à disposição de quem aguarda o embarque ou aos que transitam pelo local. O maior dos banheiros masculinos, e mais distante em relação à entrada da Rodoviária, conta com quatro cabines e um único mictório coletivo. O papel é fornecido fora das cabines. Portanto, para utilizá-lo, é necessário pegar o papel antes de entrar no reservado. Existem três pias— embora uma não esteja funcionando no momento — sabonete líquido em abundância e secador de mãos. Apesar de nem todas as lâmpadas funcionarem, a luz é suficiente para iluminar todo o ambiente. O banheiro também tem uma cabine destinada para pessoas com deficiência, onde não é oferecido sabonete e papel só é encontrado ao lado do vaso sanitário.

Os outros dois banheiros masculinos estão bem próximos. Um deles, no térreo, é limpo e bem cuidado. O outro, no andar de cima, o contrário. Três cabines, quatro mictórios e duas pias compõem o que está no térreo. O comerciante Leandro Fiorini relatou que o cheiro do banheiro é desagradável — o local não tem janelas. Um ventilador fica ligado para tentar dissipar o odor, porém, a impressão é de que somente acaba intensificando ainda mais o cheiro. Fiorini acrescentou que alguns frequentadores roubam as trancas de metal que fecham as cabines com o intuito de comercializá-las, além de quebrarem torneiras. O vendedor também contou que existem pessoas que vigiam por cima das cabines no turno da noite. Já em relação a recursos, o sabonete líquido pode ser encontrado nas pias, entretanto, só existe um suporte de papel higiênico, localizado ao lado dos mictórios. A iluminação do banheiro é boa.

Ao lado desse banheiro, é possível encontrar um sanitário destinado a pessoas com deficiência, que tem uma pia, um vaso sanitário e um pequeno suporte anexado na parede para ser utilizado como fraldário. Vale destacar também que a porta do banheiro estava sem tranca. A iluminação do banheiro é ótima, sabonete e papel higiênico são disponibilizados e, ao invés de papel toalha, um secador de mãos pode ser encontrado ao lado da pia.

Um cadarço foi improvisado na parede para ser utilizado como uma tranca / Fotografia: Theo Giacobbe

Para acessar o terceiro e último banheiro masculino é necessário subir um lance de escadas. Talvez por isso, dentre os banheiros da rodoviária ele seja o menos utilizado, e, por consequência, o mais limpo. O banheiro é composto por cinco vasos sanitários, quatro mictórios e três pias. Há papel higiênico ao lado das pias, mas o sabonete líquido raramente é reposto, como relata o comerciante Gabriel Ribeiro. A iluminação é um ponto forte, pois é bem distribuída em todo o ambiente. Em nenhum dos três banheiros papel higiênico é disponibilizado dentro das cabines.

Os dois sanitários femininos mais próximos da entrada principal da rodoviária têm um problema frequente no quesito ambiente. Paredes e portas das cabines são pichadas e azulejos foram arrancados. Sabonete líquido e papel higiênico são repostos com frequência. Um deles está no primeiro andar e conta com quatro cabines com vasos sanitários e três pias. O banheiro do térreo possui cinco repartições de assentos sanitários e quatro pias, sendo que uma se encontra fora de funcionamento, pois a torneira está quebrada.

O banheiro feminino mais distante da entrada principal, e o maior deles, é o mais higiênico. Tem papel nas cabines, mas não ao lado das pias. O recipiente com sabonete líquido dificilmente está vazio. Em relação aos vasos sanitários, no momento da visita da reportagem, uma cabine estava interditada e as outras quatro funcionando. O cheiro era adequado e a condição de ventilação é boa, pois o local conta com algumas janelas.

Mercado Público

O mais tradicional mercado de Porto Alegre disponibiliza apenas um banheiro para o público masculino e outro para o feminino, além de um banheiro acessível para pessoas com deficiência física. Todos no segundo andar. O primeiro ponto a ser abordado é a má sinalização das placas de orientação que indicam incorretamente a localidade dos sanitários. Tentando corrigir o problema, folhas com as orientações corretas foram afixadas nas paredes do prédio.

O banheiro masculino tem seis pias, uma delas sendo menor para facilitar o uso para crianças. Entretanto, nem todas podem ser manuseadas, já que uma delas não conta com torneira. Papel higiênico não é disponibilizado, e os vasos não têm tampas. Além disso, o local conta com cinco mictórios — um deles não está apto para utilização. A estrutura do local tem quatro cabines com vasos sanitários, mas dois estão interditados.

A iluminação está em boas condições, com todas as lâmpadas funcionando.

No quesito ventilação, o banheiro tem uma janela grande que dá conta de prevenir o mau cheiro do ambiente. O banheiro está em ótimas condições de limpeza.

Herikes Longaray trabalha na Banca 25 do Mercado Público e constatou que utiliza pouco este banheiro pois existe um somente para os funcionários, que conta, inclusive, com um vestiário. Apesar disso, Longaray contou que sempre que precisou utilizar o banheiro público o local estava higienizado, com papel e sabonete.

O banheiro feminino é composto por seis cabines com vasos sanitários, sendo que um está interditado, e uma pia está fora de funcionamento. O ambiente é limpo e a estrutura está em boas condições. A situação de arejamento é diferente do banheiro masculino, pois a janela que, em tese, serviria para dispersar o mau cheiro, fica na parte de fora do banheiro.

O banheiro é mantido limpo, mas muitos recursos do local não estão disponíveis para uso / Fotografia: Fernanda Feltes

Orla do Guaíba

O maior ponto de encontro dos porto-alegrenses, a Orla do Guaíba, possui sete conjuntos de banheiros fixos ao longo de seus três primeiros trechos, que recebem um intenso fluxo de pessoas diariamente. Foram visitados os três primeiros conjuntos de banheiros presentes na Orla, no sentido do Centro Histórico para a Zona Sul. A equipe da empresa terceirizada responsável pela manutenção e limpeza dos banheiros da Orla do Guaíba desempenha um papel fundamental para garantir que esses espaços estejam sempre em condições adequadas.

Os banheiros masculinos têm um padrão de duas cabines com vasos sanitários, dois mictórios e duas pias, sendo que, nos banheiros visitados pela equipe, todos funcionavam. Entretanto, vale ressaltar que em um dos banheiros visitados o mictório estava com um vazamento. Outro ponto a ser destacado é que algumas descargas são fracas, dificultando a passagem de dejetos.

Vazamento de mictório espalha água inclusive para as cabines de vasos sanitários / Fotografia: Theo Giacobbe

Os banheiros femininos são compostos por uma estrutura padrão, de quatro cabines e três pias, sendo que quase todas as cabines não possuem papel higiênico. No entanto, a maioria dos recipientes com sabonete líquido encontram-se vazios. Os banheiros são limpos na maior parte do tempo. Essa condição varia em dias com grande circulação de pessoas.

A qualidade da iluminação não é a mesma em todos os banheiros, pois em alguns ela é muito baixa. Embora os banheiros disponham de papel nas pias, o mesmo não é oferecido nas cabines. Sabonete líquido, embora seja oferecido, em certos horários de muito movimento poderá estar em falta.

Para utilizar os sanitários destinados ao uso de pessoas com deficiência é necessário solicitar a chave ao bar mais próximo, afinal o banheiro fica trancado caso a utilização não seja necessária.

Paulo Ricardo da Silva, auxiliar de serviços gerais pela empresa que administra a limpeza da Orla do Guaíba, relatou que a limpeza é feita duas vezes ao dia para manter os sanitários em perfeita ordem. Além disso, cada funcionário é responsável por limpar três banheiros em dias de pouco movimento. Quando há grande circulação de pessoas, cada auxiliar de limpeza fica encarregado pela higienização de um banheiro, somente. Silva também disse que muitos usuários jogam papel no vaso, na pia, no chão e sujam os espelhos. “É necessário desentupir os vasos constantemente. O pessoal não respeita o nosso trabalho.”

Casa de Cultura Mario Quintana

A Casa de Cultura Mario Quintana é um ponto de referência para amantes da cultura. O edifício foi originalmente construído em 1916, e atualmente possui dois banheiros masculinos, dois femininos e dois com recursos de acessibilidade, divididos de forma igual entre as duas partes da estrutura do edifício. Ao visitar o banheiro público da CCMQ, foi possível perceber uma qualidade superior em comparação aos outros banheiros visitados pela equipe de reportagem.

Os banheiros masculinos têm boas condições de limpeza. O primeiro deles, localizado no segundo andar, possui duas pias, três vasos sanitários — um deles sem tampa — e quatro mictórios. O segundo, localizado no terceiro andar, inclui três pias, duas cabines com vasos sanitários e quatro mictórios. As saboneteiras estavam cheias, e os suportes para papel higiênico bem carregados. A iluminação dos banheiros é muito boa.

Os sanitários femininos também possuem boa aparência estética, além de estarem com a limpeza em dia e um cheiro agradável. Estes banheiros têm três cabines com vasos sanitários, duas pias e o outro com duas cabines e três pias. Todos com recipientes de papel higiênico e sabonete devidamente cheios.

A Casa de Cultura Mário Quintana também possui dois sanitários com recursos de acessibilidade que estavam trancados, sendo necessário pedir as chaves de abertura para os seguranças do local.

Um ponto negativo percebido, não só nesse banheiro como em todos os outros, é o lixo atirado de qualquer forma no suporte das pias ou até mesmo no chão. Mesmo esse sendo o banheiro com menor circulação de pessoas dentre os visitados, isso não impediu que a falta de cuidado de algumas pessoas dificultasse a limpeza realizada pelos funcionários. Isso evidencia que independentemente da localização e da circulação de pessoas, os banheiros públicos são pouco valorizados por parte dos usuários. Esse é o desafio enfrentado pelas instituições responsáveis pela manutenção dos sanitários.

Lixo atirado no chão ao lado das pias e dos vasos evidencia falta de cuidado dos usuários nos banheiros da CCMQ / Fotografia: Felipe Silva Teixeira