O legado de Beatriz Dornelles

Professora, falecida na terça feira (12), deixou grandes contribuições para a pesquisa em comunicação

Pedro Pereira

Escrito por Pedro Pereira

Reprodução / PUCRS

A comunidade acadêmica da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) está de luto pelo falecimento de Beatriz Corrêa Pires Dornelles. Jornalista, professora e pesquisadora do curso de Jornalismo e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social (PPGCOM) da Escola de Comunicação, Artes e Design – Famecos, Beatriz tinha 64 anos e sofreu uma parada cardíaca. Bia, como era carinhosamente chamada pelos colegas e alunos, realizava tratamento oncológico e havia apresentado melhora nos dias que antecederam o falecimento.  

Natural de Alegrete, Bia concluiu o curso de Jornalismo na PUCRS no início da década de 1980 e iniciou a carreira como professora em 1984 no Centro de Ensino Universitário de Brasília (CEUB), em Brasília. Nesse período, em paralelo às funções docentes, trabalhou como repórter no Jornal Pioneiro, do Grupo RBS, com enfoque no cenário político da capital brasileira – função que exerceu até 1994. Fez mestrado em Jornalismo Científico pela Universidade de São Paulo (USP) em 1989 e tornou-se Doutora em Comunicação em 1999 pela mesma instituição. Desde este período, desenvolveu pesquisas na área de Jornalismo Comunitário, com enfoque nos periódicos do interior do Rio Grande do Sul e nos jornais de bairro. Apaixonada pela temática, Beatriz foi a primeira presidente da Associação dos Jornais de Bairro de Porto Alegre (Ajob/Poa), também na década de 90.  

Retornou à PUCRS como professora em 1993 e passou 31 anos trabalhando na instituição, contribuindo para a formação de gerações de alunos da Famecos. Juremir Machado, coordenador do PPGCOM, amigo pessoal de Bia e colega de profissão durante décadas, lamentou profundamente a morte da colega e destacou sua importância para o jornalismo, a pesquisa e a docência:  

“Bia era uma pessoa sempre motivada, apaixonada por jornalismo e por pesquisa e aula. Fazia tudo com gana. Era corajosa, perseverante e determinada. Tinha sempre um projeto, uma ideia, a vontade de fazer algo. Não desistia, não se desencantava”, disse Juremir. 

Uma prova desse engajamento em múltiplos projetos são os 13 livros lançados pela jornalista. Em 2002, Beatriz organizou o livro “PUCRS: 50 anos Formando Jornalistas”, com capítulos escritos por professores da Famecos, buscando valorizar a relevância do curso e seu legado. O perfil determinado, mencionado por Juremir, se prova na incessante busca de Bia por qualificar-se ainda mais. Em 2009, realizou pós-doutorado na Universidade Fernando Pessoa, no Porto, em Portugal. 

O envolvimento de Bia com a edição e produção científica aumentou ainda mais a partir de 2014, quando assumiu a função de editora da Revista Famecos, periódico científico voltado para a Comunicação. O editor-assistente da revista, Otávio Daros, relembra o perfil da professora:  

“Era uma jornalista apaixonada pela profissão. Mais que isso, foi uma ativista do ofício de informar, preocupada sobretudo com a atividade nas comunidades e no interior. Ela trouxe a bagagem pragmática da redação e do jornalismo diário para sua vida na universidade. Com ela, o papo era reto e objetivo. Não era de meio termo: tinha o certo e tinha o errado”, afirmou Otávio.  

Otávio também comenta que, ainda na semana passada, Beatriz visitou a universidade: “Estava cheia de planos. Hoje me pergunto se não foi inconscientemente uma necessidade de se despedir do ofício e do lugar que tanto amava viver”, relembrou, com carinho. 

Além das contribuições científicas, Bia era colorada de carteirinha e fazia parte do InoveInter, grupo político de torcedores apaixonados pelo Sport Club Internacional. Também possuía paixão por artes manuais e aventurou-se como artesã, presenteando amigos e colegas com seus projetos.  

Entidades de pesquisadores e classe como a Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós), a Associação Rio-Grandense de Imprensa (ARI), o Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul (SindJor), Associação Brasileira de Ensino de Jornalismo (Abej), Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor), Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) emitiram notas de pesar pelo falecimento de Bia. Representantes de programas de graduação e faculdades da área da comunicação também enviaram notas manifestando a importância da pesquisadora para o campo. Beatriz deixa um filho, o jornalista Alexandre Dornelles. 

Abaixo, estão algumas capas dos lançamentos da Revista que envolveram Bia: