Onde há professor, há escola 

Longe de sua sede desde a enchente de maio, a maior escola municipal de Porto Alegre luta para manter a educação de mais de 1,5 mil alunos

Andrei dos Santos Rossetto

Reportagem de David Ferreira, Amanda Steimetz e Pedro Pereira

Foto / Júlia Dorigon

Em mais de 70 anos, pela primeira vez, a escola municipal Liberato Salzano comemorou um Dia dos Professores longe de seu endereço oficial. A maior escola de Porto Alegre fica localizada no bairro Sarandi, uma região que foi fortemente afetada pelas enchentes de maio. Cinco meses se passaram e a igreja São José – utilizada como espaço emergencial para receber os alunos – segue como sede provisória do Liberato. Na semana do Dia do Professor, comemorado em 15 de outubro, docentes do local contam como a tragédia impactou a vida e o trabalho de quem atua na educação.  

“Toda a nossa história ficou ali”, conta diretora da escola 

No início de 2024, a comunidade da escola Liberato Salzano se preparava para comemorar os 70 anos da escola em grande estilo, com um baile marcando a data e mais de 300 pessoas como convidadas. A data: 10 de maio. Mas uma semana antes, no dia 3, as águas transformaram a vida de todos.  

 “Quando a água invadiu a nossa escola, tivemos 30 minutos para sair correndo, O térreo inteiro foi danificado. Livros, mobiliários, toda a nossa história ficou ali”, conta a diretora Rochele Soares. No 18º dia após a inundação, a escola recebeu apoio do exército para retomar ao local da escola e, ao chegarem, viram um “cenário de guerra extremamente triste, em um momento muito vulnerável com a perda da escola”, disse. 

“No começo, foi bem confuso para os alunos”, relatou o professor de História Guilherme Pokorski. Com a redução do número de salas de aula as turmas foram mescladas. E a criatividade dos professores tem sido crucial para suprir as limitações do espaço, mesmo com a ausência de áreas de lazer adequadas. Guilherme destacou os desafios enfrentados na organização das aulas. “História deixou de ser uma matéria isolada e se integrou com Geografia e Filosofia”, afirmou.  

Juliana Prauchner, supervisora escolar, explicou que a divisão de tarefas e a reorganização entre os funcionários permitiu que todos pudessem retornar ao trabalho.  “Foi um grande desafio”, disse, mencionando o esforço coletivo para adaptar as turmas ao novo plano de ensino e formato didático: “Enquanto a direção buscava um lugar para realizar as aulas, a supervisão montou o quebra cabeça para poder atender às turmas”. Ela enfatizou que, apesar das dificuldades, essa experiência se transformou em um aprendizado em conjunto, onde docentes e discentes cresceram. “Os professores estavam muito dispostos a se adaptar.” 

Reforma e recomeço 

Para os alunos, o processo de adaptação ao novo espaço tem sido uma oportunidade de crescimento e a obra da reestruturação da Liberato anima os estudantes: “É um prazer ver a reforma da escola, é algo que nos emociona”, afirmou a diretora. A expectativa é que até 8 de novembro as áreas privativas da escola estejam prontas. O retorno das aulas está previsto para o começo de 2025. “Eu gosto de estar aqui, gosto de estar acolhendo, abraçando”, contou a diretora.  

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