Opinião: Marina Sena revisita as próprias origens no novo álbum “Coisas Naturais”

Cantora chega ao terceiro disco da carreira fazendo o que sabe de melhor: ser autêntica

Jornalismo Especializado

Capa do álbum “Coisas Naturais”. Crédito: Marina Sena, Divulgação

Por Carlo Amoretti

Antes mesmo de ser lançado, o novo álbum da cantora mineira Marina Sena já gerava inúmeros comentários e especulações nas redes sociais. A expectativa era grande após a divulgação da capa do disco “Coisas Naturais”. Revelada cinco dias antes do lançamento, a arte traz uma colagem com uma diversidade de influências e referências da artista — como uma fotografia de Gal Gosta — refletindo um disco diferente do comum e repleto de originalidade. O burburinho gerado pela capa se confirmou. Marina chegou ao terceiro disco da carreira fazendo o que sabe de melhor: ser autêntica.

É comum ver fenômenos do pop nacional apostarem em fórmulas de sucesso já conhecidas e receitas genéricas para se manter em alta na mídia. Poucos se mostram dispostos a ousar musicalmente, como é o caso da cantora de 28 anos, que tem como principal referência Gal Costa.

Quando deixou “A Outra Banda da Lua” para seguir carreira solo, Marina Sena resolveu se arriscar lançando o álbum “De Primeira”, em 2021. Sonoramente incomum, o disco conceitual apresentou a artista para um público fora da sua bolha e chamou a atenção da crítica por conta do hit viral “Por Supuesto”. O cenário do novo trabalho é semelhante, resgatando elementos dessa fase ao explorar influências da MPB. O resultado é distinto do segundo álbum, “Vício Inerente”, pop na essência, mas genérico musicalmente, que provou que esse não é o caminho a ser seguido pela artista.

Lançado em março deste ano, “Coisas Naturais” mistura música latina e música brasileira, mergulhando na diversidade de gêneros, com elementos da bossa nova com MPB,  tecnobrega, reggaeton, funk e reggae. O disco coloca a cantora entre os maiores nomes do pop brasileiro, apesar das diversas críticas a respeito da sua voz e por “beber demais” do repertório de Gal. A voz de Sena pode soar estranha num primeiro contato. Mas “Coisas Naturais” traz um amadurecimento artístico e uma mudança vocal como resposta às críticas.

Com um som popular, mas também conceitual, a identidade vocal de Marina Sena é inconfundível em faixas como “Sem lei” e “Combo da Sorte”. Já a faixa título, que também abre o álbum, é um pop que tem tudo a ver com a artista, onde é possível desvendar um pouco do que vem a seguir nas próximas 12 faixas: a sensação de entrar no mar. Em “Numa Ilha”, canção lançada ainda em 2024 como single do álbum, o repertório segue a mesma tendência, como uma melodia que cativa e ao mesmo tempo remete à calmaria de uma praia. Em “Desmitificar”, ela vai do agudo ao grave. A faixa inclusive vem causando polêmica nas redes sociais, sendo interpretada como uma indireta à ex-namorada do seu atual namorado.

Há quem veja uma relação um tanto confusa entre Marina Sena e suas influências, especialmente quando ela se aproxima dos vocais de Gal Costa. Por outro lado, a cantora entrega uma melodia envolvente que destaca sua originalidade. Nesse equilíbrio entre referência e inovação, Marina se distancia das tradicionais “divas pop” sem perder a autenticidade, afirmando seu lugar único na cena musical brasileira.