Opinião: Novo álbum de Bad Bunny é o melhor de sua carreira

Texto analisa disco “Debí tirar más fotos”, que mistura ritmos tradicionais porto-riquenhos com música urbana

Jornalismo Especializado

Capa do álbum “Debí tirar más fotos”. Crédito: Bad Bunny, Divulgação

Por Isadora Lawall Machado


Antes de lançar o álbum “Debí tirar más fotos”, Bad Bunny parecia perdido no em uma espécie de sonho americano, com uma casa em Hollywood, namorando uma supermodelo e lançando músicas de rap e trap. Mas, enquanto isso, ele se rumava para ser o artista mais ouvido da América Latina no Spotify. Essa dicotomia causava incômodo em alguns seus fãs latino-americanos. Onde estava aquele artista que cresceu na música urbana porto-riquenha e se firmou no reggaeton? Será que ele se tornaria mais um artista que largou as suas raízes pela fama internacional?
Para a sorte de seus ouvintes, Benito Antonio Martinez Ocasio, o Bad Bunny, lançou no início de 2025 o melhor álbum de sua carreira, tanto em alcance quanto em qualidade. Misturando ritmos tradicionais porto-riquenhos com o reggaeton, o artista cria um relato de sua experiência de vida. Ele aborda a gentrificação, o desmatamento e a saudade, tudo em forma rítmica. Bad Bunny tornou os assuntos palatáveis até por públicos inesperados ao atingir o primeiro lugar da Billboard 200 nos Estados Unidos. O artista chegou ao topo da parada mesmo que amplamente criticado e superou Taylor Swift, artista mais ouvida no país em 2024.
“Debí tirar más fotos” traz nostalgia, reminiscência, uma sensação do conhecido, do confortável, do caseiro e, ainda assim, inesperado. A capa do álbum também traz essa sensação ao apresentar duas cadeiras de plásticos. Tais cadeiras podem ser encontradas em qualquer parte da América Latina. Na fotografia, no entanto, elas estão vazias. Musicalmente, cada faixa trabalha sua sonoridade em equilíbrio com a intenção lírica da letra. As canções tratam de temas relacionados à Porto Rico, contando a história e luta do país. No entanto, a coletânea musical também permite entender a fragilidade do próprio artista. Em “Él Club”, por exemplo, as batidas contrastantes parecem representar os altos e baixos de um término, apresentando um lado mais emocional do que no álbum anterior.
No entanto, o que realmente enriquece o álbum é o cuidado com a construção de uma narrativa atrativa e de resistência. O artista colabora com músicos locais e alunos da Escola de Música Livre Ernesto Ramos Antonini, de San Juan, sua cidade natal. Mais do que a música em si, o álbum se torna relevante pela sua emergência. Em 17 músicas, o cantor desenvolve um álbum sobre identidade e traduz a história, a cultura e a luta de um país “em risco de extinção”. Assim, Bad Bunny não apenas celebra sua nação e retrata suas raízes, mas as retoma como suas e as torna internacionais.