Opinião: O peso de vencer sendo Beyoncé

Artigo analisa importância do prêmio Grammy dado a uma artista negra após 26 anos

Jornalismo Especializado

Beyoncé levou prêmio principal do Grammy em 2025. Crédito: Beyoncé, Divulgação

Por Laísa Rinaldi


Mais de 26 anos. Este foi o tempo que levou para que outra mulher negra ganhasse o prêmio de Álbum do Ano, o famoso AOTY (Album of the year), no Grammy Awards. A lista é curta: Whitney Houston (1994), Ms. Lauryn Hill (1999) e, a mais recentemente, Beyoncé (2025). Por que esse assunto foi tão fervorosamente comentado tanto no passado quanto agora? Simples. A indústria musical, mesmo que não pareça, ainda é comandada por homens, brancos, heterossexuais e conservadores.
As redes sociais foram tomadas por ataques racistas e machistas contra Beyoncé, que levou o prêmio pelo álbum “Cowboy Carter”. A crítica especializada foi praticamente unânime quanto à excelência musical do trabalho, que ficou à frente dos álbuns Billie Eilish e Taylor Swift. Beyoncé foi alvo de uma avalanche de ataques. Comentários depreciativos como “marido que pagou”, “não mereceu”, “pior álbum da carreira” e, o mais duro de todos, “só porque é preta”.
Lotado de referências e história, o álbum faz um resgate das origens da música country, combinando cantores icônicos como Willie Jones, Dolly Parton e Linda Martell com os contemporâneos Miley Cyrus, Post Malone e Shaboozey. Em todas as faixas, Beyoncé interliga a origem negra do country com sua história e da sua família texana, estado completamente influenciado pelo estilo.
Apesar do impacto cultural, os mais incomodados com a vitória de Beyoncé foram os fãs das artistas derrotadas. Antes de vencer, porém, Beyoncé perdeu quatro vezes na mesma categoria. Em todas as vezes, perdeu para artistas brancos, como Adele, Taylor Swift e Harry Styles, cantores conhecidos por contar histórias básicas de amor, traições e relacionamentos fadados ao término.
Em 2025, a vitória sobre Billie Eilish, Taylor Swift, Sabrina Carpenter e outros coadjuvantes gerou uma comoção nunca vista. A base de fãs destes artistas não parecia estar acostumada a perder, principalmente quando a derrota vem carregada de significados sociais, como o debate racial.
A maior vencedora de Grammys de todos os tempos, com 35 gramofones, precisou de 27 anos de carreira para obter o devido reconhecimento.