Rádio do Mate, de Passo Fundo, mira nos ouvintes do campo

Com programação musical e de notícias voltadas à agricultura, rádio online tem conquistado audiência nos últimos dois anos

Andrei dos Santos Rossetto

Texto de Julia Schervinski de Almeida

Foto: Eloy Mendes Lima, apresentador da Rádio do Mate / Arquivo Pessoal 

Há dois anos, um grupo de amigos criou uma rádio online totalmente voltada aos ouvintes da área rural de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. Chamada de “Rádio do Mate”, o projeto iniciou com o apoio da Câmara Setorial Nacional da Erva-Mate e tem conquistado sua audiência com programas como “Primeiro Mate”, “Diário Nativo” e “Sem Fronteiras”.

O comunicador Eloy Mendes Lima, à frente do programa diário “Sem Fronteiras”, dedicado à música tradicionalista, concedeu entrevista onde relembrou o início do projeto e a experiência de apresentar ao vivo.

Abaixo os principais trechos da entrevista:

De onde surgiu a ideia de começar uma rádio?

Partiu de um outro amigo que trabalha com erva-mate aqui na cidade de Passo Fundo entre um papo vai, um papo vem. Ele entrou em contato com o pessoal que é da Câmara Setorial Nacional da Erva-Mate aqui do Rio Grande do Sul. Aí surgiu a Rádio do Mate, que é um canal de informação para a cadeia produtiva da erva-mate. É uma rádio de um setor, que é o setor ervateiro, porém é aberto para todos os públicos. Porém, é só música tradicionalista. Eu fiz um teste perante os microfones. O pessoal gostou da locução e tudo mais. E estamos aí, né?

Você gosta da apresentação ou teria alguma outra função que também goste na rádio?

Com certeza gosto da locução. Outra função que eu que eu gosto na rádio é fazer a técnica. A técnica da rádio também me chama muita atenção. A parte dos microfones ali, a mesa de som, tudo mais.  Eu faço os dois, né? Eu conheço bem os dois. Adoro a locução. Gosto de comunicação.

Como foi a primeira vez que você fez a apresentação com o programa no ar?  Sentiu muito nervosismo ou estava calmo?

No ao vivo foi muito complicado para mim. Eu estava muito nervoso, com certeza. O que me deixou mais nervoso é que a gente vê os números de ouvintes que estão ouvindo. Vê na plataforma, que é o painel de controle.  E, na primeira vez que eu vi… Não eram muitos, né? Mas, para mim, um número significante, sabe? Era uns 45 ouvintes. Porém, você ter o número ali dos ouvintes, isso aí te preocupa, sabe? Me preocupou no momento. Aí deu uma travada, mas eu fui fazendo a leitura do roteiro. Eu me apavorei. Fui mais lendo, não foi ao natural. A gente treme mesmo não enxergando ninguém.

Você tem planos para a rádio? Tanto para sonhos quanto para melhorias.

Com certeza. No projeto futuro, vai ser essa nova rádio, que é a rádio Retrô 23. Rádio Retrô, porque a força dessa rádio vai ser o flashback e as músicas que fizeram sucesso no passado. A gente vai resgatar tudo isso. Claro que vamos tocar todas as outras, os outros estilos, né? Quanto a melhorias, a Rádio do Mate já nasceu grande. Melhorias só em alguns equipamentos. A gente já gravou o primeiro episódio do podcast com o nome “Cápsula do Tempo”, resgatando anos 70, 80, 90, 2000, trazendo diversos temas que é vestuário, festa de aniversário, programas de TV. E quando esses dois, a Rádio Retrô e o podcast, se fundirem em um só, para mim vai ser um sonho realizado. Porque eu sempre tive esse projeto de ter uma rádio massa, que todo o pessoal goste, porque eu fui muito ouvinte de rádio nos anos 1990.

Existiram muitos obstáculos ou problemas nessa trajetória?

Existiram e existem ainda, né? No início, há dois anos, foi a documentação, que é a maior parte, que é a burocracia do país. Agora, na criação do podcast já temos a três apoiadores, porém na parte financeira é uma rádio web, uma plataforma online. Ou seja, faz a playlist, faz toda uma programação totalmente igual a uma rádio tradicional, porém tem que pagar mensalmente à plataforma. Quer fazer um estúdio em uma rádio web? Tem que fazer um projeto bacana, fazer umas espumas de acústico, tem que comprar um microfone. Isso tudo custa dinheiro, né? Hoje tu vais ter um notebook, um microfone bom, um headset, um fone de ouvido bom, né? E uma internet melhor ainda. E tem a plataforma, tudo aquilo que eu te falei, é um trabalhão. É um trabalhão, porém satisfatório. […] Tu vais ter que lucrar com isso, obviamente, porque você está trabalhando. Os apoiadores vão te ajudar financeiramente a pagar a estrutura da rádio.

Os ouvintes já têm programa favorito?

Cada ouvinte tem o seu programa favorito. Tem aqueles que gostam de ouvir o programa do Alex Silva, que é o Primeiro Mate. Eles ouvem porque é primeiro mate da manhã, está cevando teu chimarrão, está indo para a roça, está indo lá fazer os seus afazeres, nas ervateiras e tudo mais. O pessoal gosta porque ali ele já vai falar sobre os insumos, sobre o que está saindo do lançamento para erva-mate. Ele vai dar a dicas de notícias do agronegócio, relacionadas ao tempo e ao clima. O outro programa, que é o do Tiago Rodrigues, é o Diário Nativo. Vem com outra pegada, outra proposta: fala de esportes, dá uma pincelada no clima, na previsão do tempo. O programa que eu apresento pela parte da tarde é o Sem Fronteiras. Aí é música, fala sobre a tradição gaúcha, das ervateiras e tudo mais.

Você teria algum conselho para quem está iniciando um projeto ou com o sonho de um em mente?

O conselho para qualquer projeto é que não é fácil. Não é barbada. É uma luta. Não pode desistir assim de início. Então esse é o conselho, né? Vamos continuar nessa nesse pensamento positivo. Muito trabalho pela frente em qualquer projeto, seja o projeto de comprar uma moto, de trocar um carro, de comprar uma casa própria, de comprar um terreno, seja o projeto que for, não desista.

Entrevista produzida para a disciplina de Reportagem e Entrevista, sob supervisão da professora Paula Sperb.