Os desafios do jornalismo brasileiro no uso da Inteligência Artificial

Gabrielly Camargo

Reprodução/ O Globo

A Inteligência Artificial surgiu nas redações como uma forma de ampliar a praticidade em alguns trabalhos. Segundo o professor de jornalismo da PUC-RS Marcelo Crispim da Fontoura, é difícil dizer exatamente quem foi o primeiro jornal com uso de IA no Brasil. Mas ressalta ainda que o Núcleo – veículo da imprensa independente,  que cobre o impacto das redes sociais e de Inteligência Artificial nas vidas das pessoas pode ser destacado como o primeiro veículo jornalístico a ter uma política de uso transparente sobre IA. No site, eles expõem uma série de parâmetros para o uso da ferramenta na redação, como a orientação para utilização na transcrição de áudios e vídeos. Por outro lado, proíbem a geração de conteúdos criados na sua totalidade por IA. 

Visto que muitas atividades manuais demandam um longo período de tempo, a utilização da IA parece ser uma boa alternativa. Muitos veículos já adotaram essa estratégia, como o Jornal O Globo. Recentemente, o uso da Inteligência Artificial no site para resumo de notícias e tradução das mesmas entrou em execução. Porém, visto que o lead é uma técnica já existente, na qual se tem uma síntese do conteúdo da matéria, não teria porque utilizar esse recurso. Sendo que o resumo criado pela ferramenta acaba sendo menos preciso e informativo que o próprio lead, como observa Marcelo Trasel. 

O pesquisador e professor Marcelo Trasel destaca a importância de conhecer profundamente a ferramenta para diminuir a chance de erros que podem surgir a partir de falhas no uso da IA. Ainda assim, recomenda que haja um olhar crítico sobre seu funcionamento e aplicação. Mesmo que seja uma Inteligência Artificial, está propensa a muitos deslizes, visto que “não são tão boas com matemática e criação de imagens”. Acrescenta ainda sobre o apoio dentro das redações, algumas opções não parecem ser tão viáveis. O uso para transcrição de áudio, por exemplo, é uma ferramenta com grande utilidade dentro da redação, mas deve-se ainda pensar em formas inovadoras e relevantes de usar a IA dentro do jornalismo. “Tem que pensar em usos mais inventivos para Inteligência Artificial, poderia existir uma ferramenta de apoio à redação. Onde tu tá redigindo uma notícia, por exemplo, e essa ferramenta de apoio trás outras notícias que estão nos teus arquivos”, sugere o pesquisador. 

A pesquisa “A Inteligência Artificial para Jornalistas Brasileiros” realizada pelo grupo de pesquisa Tecnologias, Processos e Narrativas Midiáticas da ESPM-SP entrevistou 423 jornalistas do Brasil. Desses profissionais, 56%  afirmam usar a Inteligência Artificial no seu trabalho. Apesar de ser uma ferramenta com grande número de possibilidades, 69,2% dos entrevistados ainda não tiveram um treinamento adequado quanto ao funcionamento da IA.  Dos jornalistas que responderam a pesquisa, mais da metade temem a redução de vagas de emprego. Ainda de acordo com Träsel, no futuro o uso pode seguir esse rumo, mas não deve interferir em recursos que somente o jornalista pode fazer, como a apuração de fatos e notícias. Somente dessa forma é possível criar relações com a fonte da matéria, e por ser uma parte tão importante, a Inteligência Artificial não consegue ter esse poder. Algumas funções podem acabar sendo substituídas pela IA, como as traduções e as artes, isso sim se torna problema na avaliação do professor, mas dificilmente a ferramenta terá a capacidade de substituir tantos trabalhos dentro de uma redação. “Ter repórteres indo à campo é uma forma de mostrar poder, mostrar que a redação está acompanhando o fato que está acontecendo”. 

Ao pedir para que o ChatGPT, algoritmo baseado em Inteligência Artificial, criasse uma reportagem sobre ‘O uso da Inteligência Artificial no jornalismo brasileiro’, aqui estão alguns trechos a partir do resultado obtido:

“Uso da Inteligência Artificial Revoluciona o Jornalismo Brasileiro

Por ChatGPT, Jornalista Virtual

No cenário dinâmico da mídia brasileira, a Inteligência Artificial (IA) emerge como uma força transformadora, revolucionando as práticas jornalísticas tradicionais. Desde a automação na redação até a análise avançada de dados, a IA está redefinindo como as notícias são produzidas, distribuídas e consumidas no país.

Desafios e Considerações Éticas

Apesar dos avanços promissores, o uso da IA no jornalismo brasileiro não está isento de desafios éticos e práticos. Questões como viés algorítmico, privacidade dos dados dos usuários e o impacto na qualidade do jornalismo são constantemente debatidas. Garantir a transparência nos processos de automação e manter a integridade editorial são preocupações cruciais para os profissionais da área.

Em resumo, a Inteligência Artificial está remodelando profundamente o panorama do jornalismo no Brasil, oferecendo novas oportunidades para eficiência, análise de dados avançada e engajamento do público. Como essa tecnologia continua a evoluir, jornalistas e editores estão explorando maneiras criativas de integrar a IA no processo editorial, sempre com um olhar crítico para garantir a integridade e a relevância do jornalismo contemporâneo”.