Cigarros eletrônicos colocam a saúde de jovens em risco

Dispositivos como vapes e pods possuem nicotina e metais pesados

Andrei dos Santos Rossetto

Reportagem de Aryel Santos

Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

De acordo com um estudo da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), um a cada cinco jovens brasileiros consome cigarros eletrônicos. Um dado bastante preocupante, visto que esses aparelhos apresentam substâncias extremamente prejudiciais para a saúde humana. Além da nicotina, possui outras substâncias químicas junto ao vapor, como metais pesados (níquel, chumbo e cádmio), compostos tóxicos, glicerina vegetal e propilenoglicol. A mistura aumenta as chances de desenvolver câncer de pulmão e garganta.

O cigarro eletrônico, mais conhecido como “pod” ou “vape”, é um aparelho com bateria que libera fumaça com essência de gostos variados e cheiro agradável, apesar da composição prejudicial à saúde. Não é raro encontrar jovens que já utilizaram o cigarro eletrônico, hábito comum em festas, escolas e faculdades.

“Cada vez mais está se percebendo outros problemas surpreendentes. Já se percebeu a correlação de uso de cigarro eletrônico em várias gerações. O que já está bem demonstrado é que, se um jovem usa cigarro eletrônico, a chance de ele ter um filho com asma é muito maior”, explica o pneumologista José Miguel Chatkin, do Hospital São Lucas da PUCRS.

Segundo o médico, os danos podem ser passados para futuras gerações por meio dos cromossomos. “Nos homens, o cigarro eletrônico deixa quase como uma impressão digital nos cromossomos. Nas mulheres, é mais grave no sentido de que, se a mãe grávida fumar na gestação, a criança terá maior chance de ter doenças respiratórias”, diz Chatkin, que também é professor de medicina na PUCRS.

“Pessoalmente, eu nunca tive um problema de saúde por causa do cigarro eletrônico, mas sei que faz mal”, disse Enrico Rosa, estudante de direito na UniRitter, que estava fazendo o uso de um pod, no Gasômetro.

Nem todos têm a mesma sorte de Rosa, porém. Há quem já tenha passado pelo hospital em razão dos vapes. “Já fui internado por conta do uso, meu pulmão ficou comprometido, tive infecção pulmonar. Hoje em dia não fumo mais e preciso utilizar bombinha constantemente”, revelou Gabriel Ciarlo, estudante de engenharia de software na PUCRS.

Alguns sintomas podem ser interpretados como comuns, como a tosse. “Nunca tive problemas, apenas algumas tosses raramente”, disse Maria Clara, estudante de administração na UFRGS, que estava em uma parada de ônibus, no centro de Porto Alegre.

Mesmo com poucos relatos de problemas causados atualmente, o risco é maior no futuro. Doenças pulmonares obstrutivas crônicas e principalmente o câncer, são algumas das preocupações, visto que os pods e vapes apresentam três vezes mais prejuízos para a saúde, comparados aos cigarros tradicionais.

Numa noite quente e agradável de sábado, em uma festa, ponto estratégico para observar o consumo de vapes. No local, era percebida uma divisão entre os jovens que fumavam cigarros convencionais e aqueles que usavam dispositivos eletrônicos. Os adolescentes que utilizavam pods compartilhavam o aparelho entre os amigos, passando de boca em boca e usando-o constantemente. Já os que fumavam cigarros, o consumiam de maneira individual e não em todos os momentos.

Apesar de ser proibido a comercialização e a importação desses dispositivos pela Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 46 de 2009 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os aparelhos continuam sendo vendidos.

Grande parte dos produtos é produzida na China e no Paraguai, entrando no Brasil através de contrabando. Segundo a Receita Federal, entre janeiro e abril de 2024, foram apreendidas cerca de 615 mil unidades, avaliadas em mais de R$ 27 milhões.

Além das questões de saúde, a utilização desses dispositivos de fumo entre os jovens gera preocupações sociais. O crescimento do vício e da dependência pode resultar em um ciclo vicioso, podendo ser muito difícil de quebrar. A influência de amigos e a indução para provar são elementos cruciais para a adesão a esses aparelhos.

Reportagem produzida para a disciplina de Reportagem e Entrevista, sob supervisão da professora Paula Sperb.