Comunicação organizacional nas crises climáticas é tema de debate no SEICOM 

Por David Ferreira

O painel “Comunicações e Emergências Climáticas: Desafios e Transformações” movimentou o saguão da Famecos na quarta-feira (27). A palestra apresentou debates sobre temáticas relacionadas a emergência ambiental e a importância da formação de jornalistas e comunicadores para que enfatizem seus estudos na tese climática. As pautas retomaram o contexto das catástrofes climáticas do Rio Grande do Sul no mês de maio, para aprofundar a reflexão sobre a relevância da comunicação organizacional em meio às crises climáticas.  

O evento convidou especialistas em diferentes áreas da comunicação, incluindo a da questão ambiental, para compartilhar como pesquisas e projetos que colaboraram com a temática. O debate integrou a programação do XVI Seminário Internacional de Comunicação (SEICOM) promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social (PPGCom) da PUCRS e ocorrido ao longo da semana na Escola. 

Roberto Villar, jornalista especializado em jornalismo ambiental e professor da UniRitter abordou a “Formação de comunicadores na área socioambiental”. Villar comentou sobre as diferenças que percebeu desde que aprofundou seus estudos na causa ambiental: “pra mim, a principal transformação desde 1992 é a noção de risco” afirmou. Ao relembrar a II Conferência das Nações Unidas Sobre o Meio Ambiente – Rio 92 e comparar com o contexto atual, o professor também disse que “o risco não foi construído na sociedade e isso é um problema de comunicação”, completou. Desde 2006, Villa realiza trabalhos para o Greenpeace Brasil em 2006. Esses projetos evidenciaram que as catástrofes no Rio Grande do Sul eram previstas e não receberam ênfase numa prevenção do acontecimento futuro.  

Diego Wander, professor e pesquisador da UFRGS, trouxe a temática de “Comunicação pública e organizacional nos desastres”. Além de suas experiências, Diego apresentou um projeto realizado por alunos que idealizaram a criação de guias rápidos para conteúdos relevantes no momento emergencial das enchentes no Rio Grande do Sul. O projeto Guias Rápidos para Ajudar Quem Ajuda foram produzidos para serem utilizados com a intenção de organizar a comunicação de práticas e recomendações para favorecer um trabalho qualificado, principalmente no ambiente dos abrigos provisórios. “A gente entendeu, estando nesses espaços, que muitas pessoas precisavam de algum apoio na perspectiva comunicacional” contou. “É muito bonito tentar trazer luzes do que nos toca no ponto de vista comunicacional, e certamente a gente tem muito trabalho, né? Então, seguimos”. O trabalho também foi coordenado pelo professor da Famecos Kim Gesswein. 

Outros temas também foram citados na palestra. O professor Dakir Larara Machado da Silva, Doutor em Geografia pela UFRGS, falou sobre “O racismo ambiental e a crise climática”. “O racismo ambiental discute a prática dos impactos negativos nas comunidades marginalizadas, baseadas, sobretudo, no recorte de raça, etnia e socioeconômico”, disse. Outra pauta discutida foi “A liderança feminina nas emergências climáticas” pela diretora-executiva da Themis – Gênero, Justiça e Direitos Humanos Márcia Soares. “As emergências climáticas afetam desproporcionalmente as mulheres, como violação do corpo das mulheres, e o trabalho histórico de cuidado”, denunciou. 

A decana da Famecos, Rosângela Florczak de Oliveira, também estava presente na palestra, e abordou a “Comunicação e a cultura do cuidado na gestão de riscos e crises”, retomando os temas abordadas previamente. “Essas estratégias têm que ser pensadas agora” disse. “As estruturas precisam ser preventivas, se não vão ser reativas, como foram em maio. A estrutura precisa estar pronta para quando o evento acontece, não estruturada enquanto o evento ocorre.” completou.  

O painel teve mediação de Janis Linda e foi encerrado com uma sessão de perguntas do público para os palestrantes.