Grêmio disputou primeira partida transmitida em cores no Brasil  

Gandula do jogo, Jorge Roth, conta sobre euforia de assistir de perto o momento histórico, em 1972

Andrei dos Santos Rossetto

Reportagem de Heloíza Sant’Anna Osório 

Em meio ao verão gaúcho, acontecia uma partida de futebol que ficaria marcada na história do futebol brasileiro. O esporte já era popular no país, porém só podia ser visto na televisão em preto e branco. Foi no ano de 1972 que o país apaixonado por futebol pôde ver com outros olhos. No jogo amistoso entre Associação Caxias e Grêmio, não era o resultado que importava. Mas, sim, o feito histórico de ser o primeiro jogo televisionado a cores no Brasil, diretamente de Caxias do Sul. 

No ano anterior, em 1971, os clubes Grêmio Esportivo Flamengo (atual S.E.R. Caxias) e o Esporte Clube Juventude passavam por dificuldades financeiras, não conseguindo manter os seus plantéis. Com isso, decidiram se fundir, para construir um estádio ou até mesmo trazer melhorias para os seus estádios já existentes. Além disso, havia a intenção de criar um time forte para enfrentar a dupla Gre-Nal, da capital. 

A fusão dos clubes, denominada Associação Caxias, durou apenas quatro anos. Mas foi o suficiente para marcar a história do futebol. Foi em 20 fevereiro do ano de 1972 que o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense e a Associação Caxias protagonizaram a primeira partida de futebol transmitida a cores no país, pela TV Globo com imagens da TV Difusora. No dia anterior, os brasileiros puderam assistir ao desfile de carros alegóricos da Festa da Uva.  

Jorge Roth, gandula da partida e historiador, relata momentos vividos nessa transmissão histórica. Em entrevista via Google Meet, vestindo uniforme do time grená, com cabelos pretos e muitos conhecimentos, ele aparece em sala no estádio do Caxias, onde trabalha atualmente. “Foi uma tarde muito interessante para mim, lembro que eu estava eufórico de estar diante de atletas e jogadores do Grêmio”, comenta. Roth já tinha sido gandula em outros jogos em Caxias do Sul. A experiência era possível para os melhores alunos do SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), como ele. 

Empolgado desde o primeiro contato para marcar a entrevista, Roth recorda a oportunidade de jogar bola dentro do estádio enquanto o jogo oficial estava parado para o intervalo. “Embora acontecesse a mesma coisa nos outros jogos em que eu já havia sido gandula, esse era especial. A casa estava cheia por um jogo televisionado. Além disso, o adversário era o Grêmio. Então, isso me deixou muito feliz”, relembra o gandula da partida. 

Roth recorda da atmosfera daquele dia. Era um domingo ensolarado, com diversas pessoas de fora do estado e até mesmo estrangeiros caminhando pelas ruas por conta da Festa da Uva, um dos eventos mais prestigiados do país naquela época. Suco de uva era distribuído nas arquibancadas do estádio, vindos diretos da Festa da Uva. “O Carnaval carioca vinha em primeiro lugar e depois a Festa da Uva. Tamanha era a repercussão”, conta.  

A partida foi calma, gerando até frustração para alguns telespectadores. Foi um 0 a 0, tranquilo. Porém com uma curiosidade comentada pelo gandula. O atacante Tecchio, que jogava pela Associação Caxias, recebeu o primeiro cartão amarelo dado a um jogador visto em cores pela televisão. 

Embora Jorge Roth lembre da partida com grande entusiasmo, não teve acesso à transmissão. “Aqui, para nós, foi uma grande novidade. Os brasileiros eram curiosos porque não existia essa tecnologia”, comenta sobre como a inovação foi recebida. 

Filipe Gamba, jornalista especialista em futebol, relata a importância dessa partida para o esporte. Para ele, existiram três revoluções: “A primeira revolução foi uma Copa do Mundo sendo transmitida no rádio. A segunda, e mais importante, foi a Copa de 1970, que foi a primeira Copa transmitida numa TV em cores no Brasil [o jogo, entretanto, foi fora do país, no México]. A terceira revolução, já dentro da revolução digital, é a Copa de 2010 na África do Sul, que é a primeira Copa que começa a ter a interação com as redes sociais”, explica Gamba, professor de Jornalismo Esportivo na Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos), na PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul).  

“Esse período promoveu uma revolução também do ponto de vista comercial. Porque a partir do momento em que a Copa passou a ser transmitida em cores, isso provocou uma corrida às lojas de eletrodomésticos. Porque as pessoas queriam assistir essa copa do mundo do Pelé, a Copa do Mundo de 70, numa TV em cores”, acrescenta Gamba. “Futebol depende da televisão e não é à toa”, diz o professor.  

O dia 20 de fevereiro de 1972 ficou e ficará marcado para sempre na história da televisão brasileira e do futebol que, depois desse dia, tornou-se mais colorido. 

Reportagem produzida para a disciplina de Reportagem e Entrevista, sob supervisão da professora Paula Sperb.